O fracasso é necessário. Qualquer professor de jardim da infância sabe disso. O fracasso prepara o indivíduo a lidar com frustrações. E a vida, é um acúmulo progressivo de frustrações, que se sucedem e amplificam. No fim, todos fracassaremos. Todos. Pode reclamar e gritar à vontade, que não vai adiantar nada.
O sucesso é traiçoeiro. Uma pessoa de sucesso, se sente
bem-recebida onde quer que vá, portas lhe são abertas, tapetes estendidos. Cercada
de olhares de admiração e inveja, sua opinião é ouvida e respeitada. Tem acesso
a vantagens e realização de prazeres, inatingíveis aos menos favorecidos, os comuns.
O perigo é que ninguém faz sucesso o tempo todo. Ele já vem com os dias
contados.E quanto mais alto se estiver, maior a queda. A mulher gostosa vai
envelhecer; inconformada vai perceber que está se tornando
"invisível" ao olhar masculino, quando antes, era o centro das
atenções. O empresário brilhante será ultrapassado. O reinado do leão é
passageiro, ele será destronado por um rival mais jovem, como todos que vieram
antes dele, e os que virão depois. É biológico, não tenho culpa. Se quiser
culpar alguém, culpe a Deus por ter feito desse jeito, não a mim, por
denunciá-lo. Ele é sim, um sacana, uma vez que podia ter feito diferente.
Prefiro o fracasso. Ele está mais próximo da condição humana,
que é precária, incerta, assustadora, amedrontada, insegura. Afinal, o homem é
um cérebro pensante, sendo carregado de um lado a outro por quem? Por um mero tubo
digestivo! (aquele mesmo, que solta flatos e defeca). O cérebro é uma alma,
capaz de realizações divinas; ele pensa, vê, opina, se emociona, é capaz de
construir obras magníficas, prédios gigantescos... poesia, filosofia, arte!
Consegue ir à Lua! Mas o corpo... o tubo digestivo que o carrega, e do qual ele
depende... tem algo de apodrecido, impuro em seu interior, e está fatalmente
condenado à decadência, à falência fisiológica, à inevitável ruína do
envelhecimento, da doença e da morte. O ser humano tem uma alma divina, sempre
se aprimorando, melhorando... conduzida por um corpo que apodrece e se desfaz,
enquanto a divindade assiste, impotente. Esse é o paradoxo. Não importa o que
você faça, a derrota final está sempre te esperando. E durante a embriaguez do
sucesso, você não entra em contato com essa desagradável realidade. Deus, o sacana,
pelo menos te ajude em sua queda. Assim espero.
Meus pacientes estão livres da obrigação de fazer sucesso. E
perdoados por fracassar.