quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Provas da existência de Deus: 07

O argumento das provas extraordinárias requeridas:

Todos sabem que os monstros com face no tórax vistos por Alexandre Magno não existem. Afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias, e não simples pinturas em museus de arte.
Com Deus não é assim,
Portanto, Deus existe.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Alexandre Magno diante dos monstros

Alexandre Magno (356-323 a.C.), maior conquistador do mundo antigo, em poucos anos empreendeu uma das maiores expansões territoriais da história, que englobava a Grécia, Pérsia, até a Índia. Foi responsável pela fusão das culturas gregas e orientais, que levaram a maravilhas como a cultura helenística e a biblioteca de Alexandria. Nesta minitura do século XV (Académie nationale de Kiev/Dagli-Orti/ Art Archive), podemos admirá-lo sobre seu cavalo, com o lindo nome de Bucéfalo, observando curiosas criaturas com as quais se deparou em suas viagens. E depois dizem que meu blog é que é estranho.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Provas da existência de Deus: 06

O argumento da inaceitabilidade do inevitável pó;

Se Deus não existir, nenhum de nós contemplará a vida eterna, e apenas retornaremos ao pó.
Não aceito isso.
Portanto, Deus existe

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Mais um remédio para emagrecer fajuto

Trata-se de uma constatação: as pessoas preferem acreditar naquilo que as agrada. Uma mentira bonita costuma ser melhor recebida do que a realidade desagradável. Não importa o quanto eu repita que não existem remédios para emagrecer seguros, sejam "naturais", "complementos", "ervas", ou qualquer outro nome que se invente para atrair aqueles que desejam muito emagrecer, sempre tenho que ouvir que uma "novidade" revolucionária agora vai funcionar. Ontem a Anvisa proibiu a comercialização de mais uma farsa, a Caralluma fimbriata, que já estava enganando muita gente pela internet e fazendo a riqueza de alguns espertinhos. Publicidade enganosa, falsas promessas e preços elevados. É só questão de tempo para que as mesmas pessoas acreditem na próxima mentira.
Leia mais:
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,anvisa-suspende-medicamentos-usados-para-emagrecer,656420,0.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd2212201002.htm

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sobrevivendo à depressão de fim de ano

Natal e ano-novo são ocasiões felizes, mas o que fazer quando não nos sentimos assim?
Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria
http://www.abpbrasil.org.br/medicos/clipping/exibClipping/?clipping=12924

Depressões Natalinas

Mesmo para quem acredita em Papai-Noel, esta época de festas costuma ser um pouco complicada.  Este apelo pela felicidade em toda parte faz com que a maioria das pessoas normais sinta que está algo em descompasso com a turba. Parece sempre que os outros são mais felizes, e que existe uma obrigação em ficar bem. Muitos sentem saudade de pessoas queridas que já se foram, com quem passavam festas antigas. Quem está solitário reclama da solidão. Quem está rodeado de família reclama dos cunhados, dos penetras, dos aproveitadores. Quem trabalha dobrado reclama do trabalho. Quem paga a conta, reclama que ela está muito alta. A imensa maioria dos pacientes depressivos tem uma piora nestes dias, os horários para consulta ficam muito mais concorrorridos. Até o psiquiatra reclama das reclamações. Talvez eu tenha contato com uma amostra não representativa da população como um todo. Talvez a maioria das pessoas fique mais feliz e eu não saiba.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Narcisista

Ele se ama e se acha. O narcisista tem uma necessidade exagerada de admiração. Possui um sentimento grandioso de sua própria importância, o conceito que faz de si mesmo contrasta com a opinião dos outros. Costuma exagerar realizações e talentos, na esperança de ser reconhecido como superior. Tem fantasias grandiosas com relação ao seu poder, inteligência e beleza. Acredita ser “especial”, único, e que apenas pessoas “superiores” podem compreendê-lo em sua essência. Possui expectativas irrealistas quanto ao tratamento supostamente “vip” a que teria direito, espera ser automaticamente obedecido em seus desejos. Nos relacionamentos com outras pessoas costuma ser explorador, tira indevidamente vantagens dos outros para atingir seus objetivos próprios, manipulando as outras pessoas, sem se importar com elas. É em geral pouco capaz de identificar os sentimentos dos que o cercam, de reconhecer as necessidades alheias. Tem um grande sentimento secreto de inveja das outras pessoas, acreditando também que é por elas invejado e admirado. Seu comportamento usualmente é arrogante e insolente, trata mal os subordinados, mas sente-se inferior aos demais. Pessoas bem resolvidas e centradas, logo percebem essas características e se afastam do narcisista, para não se aborrecerem com ele. Pessoas inseguras podem ter mais dificuldade em se dar conta do que está em jogo, vindo a se sentir em posição de inferioridade, reforçando as crenças do narcisista.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pacientes que não tive 11: Padre Adelir de Carli, o padre voador

O determinado padre estava muito entusiasmado em promover as ações da pastoral rodoviária, que faz missas nas estradas e dá apoio espiritual aos caminhoneiros, devido ao sofrimento que eles passam nesses caminhos. Queria chamar a atenção a sua causa, voando preso a balões de festa cheios de gás hélio. Pilotos de balão experientes advertiram que era loucura, mas o padre, que já havia sido expulso de um curso de vôo livre anteriormente, tinha muita fé em Deus. Há três anos, ele havia sido expulso de um treinamento para vôo, por indisciplina. Segundo o professor da escola Vento Norte, Kauan Lichtonow, o padre mostrou indisciplina e inexperiência no tempo em que ficou na escola de parapente “Ele fez aula só um tempo, um mês mais ou menos. O padre foi muito indisciplinado, não quis participar das aulas teóricas, achava que sabia de tudo”, explicou.  O presidente da Federação Paranaense de Balonismo, Adriano Perini, chegou a ligar para Carli para tentar fazê-lo desistir da idéia do vôo. “Recomendei que ele fizesse um curso e não voasse perto do mar, mas ele brincou dizendo que Deus está olhando”, afirmou. De acordo com Mauro Chemim, piloto de balão com 15 anos de experiência, o padre não deveria ter decolado com chuva. "Ele decolou de lugar errado e não tinha suporte técnico de meteorologistas."
Muitos foram os avisos. Antes da decolagem, em abril de 2008, debaixo de forte chuva, ele rezou uma missa, abençoou os fiéis e, contrariando o bom-senso, a experiência de técnicos competentes, as advertências do corpo de bombeiros, partiu com sua fé para os céus. Literalmente.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O novo controle sobre os antibióticos

Até agora, só ouvi reclamação. Como um imposto, impopular, porém necessário, a nova medida da ANVISA, que controla a venda de antibióticos, condicionando-a à apresentação -e retenção- de receita médica, embora tardia, é bem-vinda. Eu sempre disse que, em se tratando de antibióticos, é preferível não tomá-los, do que fazê-lo de maneira inadequada. Dosagem, posologia e duração do tratamento, são fundamentais não só para um bom resultado terapêutico, como para evitar o desenvolvimento de resistência por parte das bactérias, e são parte do conhecimento médico, mas não do balconista da farmácia, nem da comadre. O que se via antes, na prática, era a banalização do uso de antibióticos, a generalização do mau uso, a venda irresponsável e indiscriminada de medicação, junto com artigos de perfumaria, shampoos, chicletes e chocolates. Numa distorção, infelizmente a cidade de São Paulo tem mais drogarias do que padarias, como se medicamentos fossem mais necessários do que pão. Os pacientes que tomam psicotrópicos, há muito tempo já estão acostumados com esse tipo de controle, e sabem de sua necessidade. Parabenizo a ANVISA, por essa medida impopular, que vai diretamente contra os interesses da poderosa indústria farmacêutica, em benefício da comunidade. Afinal, farmácia não é supermercado e medicamento não é refrigerante.

O sacrifício das férias

Notícia ruim, melhor sem rodeios. Estou exercendo o sacrifício anual de férias, com alguns dias de praia, sol, chopp e outros castigos; afinal, não é só de prazeres como o trabalho que vive o homem. Aqueles que de mim precisarem, com certeza têem meus telefones de contato. Nunca é demais lembrar meu email: mflucio@uol.com.br , (um homem prevenido vale por dois, como alguém disse).

domingo, 5 de dezembro de 2010

O drama das drogas

Tenho a impressão de que, pela primeira vez, a sociedade como um todo está perdendo a batalha contra as drogas. Tanto as famílias como a medicina estão se sentindo impotentes diante da situação. Já atendi e acompanhei incontáveis pacientes com este drama, e sei bem do que se trata. O Conselho Federal de Medicina reuniu médicos interessados no tema em todo o Brasil, em Brasília nesta quinta-feira, dia 25. Teve início o Fórum Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso de Crack, que já tem agenda para o próximo ano definida. Chegaram à triste conclusão que os médicos desconhecem como tratar dependentes de crack. Confira no link:

http://www.abpbrasil.org.br/medicos/clipping/exibClipping/?clipping=12812

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Leia a Bíblia 02 (ainda sobre perícia médica): Davi simulando doença mental

De como os livros bíblicos já previam e preveniam os homens de boa índole a respeito da perfídia dos simuladores que, aproveitando-se da credulidade e boa-fé desses mesmos homens, os iludem e confundem, a fim de obter benefícios imerecidos, vivendo a gozar impunemente dos prazeres terrenos, mediante o suor do trabalho de seus semelhantes, escapando ardilosamente de suas obrigações sociais ou, De como os médicos peritos sofrem injustas acusações de insensibilidade, indiferença e frieza ante o sofrimento de seus irmãos, tendo suas mães ofendidas e xingadas, ou melhor ainda, De como as sagradas escrituras há longa data já alertavam sobre as amargas águas que os peritos do INSS haveriam de beber.

I-Samuel, capítulo 21:
12. Davi, teve medo de Aquis, rei de Get.
13. Simulou loucura diante deles, comportando-se como demente: tamborilava nos batentes da porta e deixava correr saliva pela barba.
14. Aquis disse aos seus servos: Bem vedes que este homem está doido. Por que mo trouxestes?
15. Não tenho eu aqui doidos bastantes para me trazerdes ainda este, e me fizesse doidices diante de mim? Ele não porá os pés na minha casa

sábado, 27 de novembro de 2010

Perícias médicas


Pessoas que sofrem de distúrbios mentais, como depressão e ansiedade, muitas vezes ficam temporáriamente incapacitadas de trabalhar em decorrência de seus sintomas. É dever do médico que delas trata fornecer um atestado solicitando o afastamento do trabalho por motivo de saúde. Se esse tempo de afastamento for superior a 15 dias, o paciente deve procurar o INSS, e passar pela avaliação de um outro médico, o perito, do qual depende, em última instância, o pagamento ou não, dos dias sem trabalho. E é então que as coisas se complicam. O paciente quer receber. O INSS quer economizar e evitar fraudes. O paciente algumas vezes acredita que adoeceu devido ao tratamento inadequado que recebeu em seu emprego, quer também ser indenizado. A justiça do trabalho pode ser acionada. E no final, para dar uma sentença justa, o juiz precisa ser auxiliado por profissionais com conhecimento técnico e experiência na área, médicos. Psiquiatras, peritos e advogados precisam então se entender e falar a mesma língua. É nesse esforço que nos encontramos agora, aqui em Brasília. Espero voltar com boas notícias a meus pacientes.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quando o trabalho adoece.

O termo "burnout" tem sido empregado para designar um conjunto de sintomas apresentado por trabalhadores que sofreram "esgotamento profissional", estando sua ocorrência vinculada a uma exposição contínua a fatores estressantes, emocionais e interpessoais no trabalho. Se caracteriza por sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo; reações negativas, insensibilidade ou afastamento excessivo do público que deveria receber seus serviços ou cuidados; diminuição do envolvimento pessoal no trabalho, sentimentos de incompetência e insucesso. Começa como uma perda gradativa do entusiasmo, que evolui para uma vivência de tédio, irritabilidade, agressividade, perda do autocontrole emocional, manifestações depressivas relacionadas a decepção, indisposição e desinteresse pelo trabalho. Os indivíduos acometidos parecem estar sujeitos a uma maior incidência de consumo de àlcool e conflitos familiares. Em minha experiência acomete sobretudo professores da rede pública de ensino, que passam por desvalorização profissional, perda do reconhecimento de seu valor, desrespeito e  exposição à violência. E para completar, não tem a legitimidade de seu sofrimento reconhecida pela família e sociedade, sendo rotulados de "neuróticos" e "fracos".

Distúrbios mentais e trabalho

Aqui em Brasília, encontram-se médicos, psiquiatras, peritos e autoridades em previdência social, discutindo a questão das consequências trabalhistas dos problemas de saúde mental. Depressão, ansiedade e outras formas de estresse constituem as maiores causas de afastemento do trabalho, mas recentemente assistimos a uma verdadeira epidemia dos casos de psiquiatria no INSS e os peritos estão tendo grande dificuldade em lidar com estas questões. Estou aqui para entender como pensam esses colegas e discutir formas de resolver estes problemas. Todos os dias, afinal, atendo pacientes que passam por dificuldades para obter auxílio previdenciário, apesar de se encontrarem temporáriamente incapacitados.

domingo, 21 de novembro de 2010

You're going to need a bigger boat



A melhor trilha sonora de todos os tempos, um convite à apreciação da música instrumental, e se imaginarmos bem, da música clássica. Foi assim comigo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Provas da existência de Deus 005: Beethoven

Sonata para piano, opus 27, nº2, "Ao Luar".
(ouvir de olhos fechados e sem pressa, ou não ouvir)



1801: em algum lugar da Áustria, por algum motivo que nunca saberemos, Beethoven sentiu algo. Consigo imaginá-lo fechando os olhos, ao mesmo tempo em que transmite esse sentimento a um papel, através de uma partitura. Duzentos anos depois, eu fecho os meus olhos e, através de sua música consigo “sentir” o mesmo que ele.
Que estranha magia é esse negócio de música. Não tem materialidade, não posso tocá-la nem vê-la, e no entanto, ela possui essa capacidade de me emocionar. Onde fica guardado esse sentimento? Está na partitura, na mente do autor, no arquivo de MP3? Quando desligar o som, para onde irá? Não seria o meu corpo, como uma vitrola, que durante um breve tempo produz uma música? E quando eu morrer, será que essa música desaparecerá? Ou continuará tocando de vez em quando, sendo ouvida e influenciando os sentimentos das pessoas a quem eu amei?

Aquele que tiver ouvidos para entender, entenda.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Epicurismo, esse incompreendido.

Epicuro (341-270 a.C.) talvez seja o filósofo interpretado de maneira mais errônea entre os pensadores.
Materialista racional, defendia a teoria atômica, acreditava que o corpo consiste numa coleção de àtomos que se separariam na morte. Estebeleceu o Princípio do Prazer como objetivo de uma vida feliz, e nisso tem sido muito mal compreendido. Para ele, os maiores prazeres eram a leitura, a introspecção, a amizade e a filosofia. Defensor do ócio e da moderação, advertia contra os perigos do sexo e da sedução carnal. Por erros históricos, o epicurismo é inadequadamente associado à idéia de orgias sensuais, libertinagem e glutonice.
De acordo com ele, a pior coisa a fazer é se preocupar com a incerteza do futuro. Sua idéia de paz interior é de viver o agora e alcançar a tranquilidade, um dia de cada vez, se possível na presença de bons amigos, o que considerava a maior riqueza.
O humilde e reservado Epicuro deve estar tremendo em sua tumba, diante da deturpação de suas idéias.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Leia a Bíblia 01: De como Abrão, conseguiu escapar com vida do Egito, acompanhado de sua muito formosa mulher

Gênesis, capítulo XII:

"10-E havia fome naquela terra, e desceu Abrão ao Egito em peregrinação;
11-E aconteceu que chegando para entrar no Egito, disse ele a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher formosa à vista;
12- E será que, quando os egípcios te virem, dirão: Esta é bela mulher. E matar-me-ão a mim, a fim de possuir-te;
13- Dize, pois, que é minha irmã, para que não me matem por causa de ti, que não quero morrer;
14-E aconteceu que, entrando Abrão no Egito, viram os homens sua mulher em formosura;
15- E viram-na os príncipes do Faraó, e gabaram-na diante do Faraó, e a mulher foi levada para a casa do Faraó, e o Faraó a despiu e a tomou;
17- Desagradou-se o Senhor, enviando pragas ao Faraó;
18- O Faraó mandou chamar Abrão e disse-lhe: Que me levaste a fazer? Porque não me disseste que era tua mulher?
19- Por que disseste: É minha irmã? Por isso a tomei por minha mulher; agora, pois, eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te."

E Abrão então se foi. Assim está escrito.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Provas da existência de Deus: 004

O argumento do ateu arrependido:

Havia um ateu que andava pelo mundo a blasfemar, pois não acreditava na possibilidade de salvar sua alma. Quando ele morreu, viu que estava errado.
Portanto, Deus existe.

sábado, 13 de novembro de 2010

O não apego

Sob interessantes aspectos, o estoicismo aproxima-se de sabedorias orientais, em particular do budismo tibetano. A esperança, ao contrário do lugar comum, segundo o qual “não se poderia viver sem esperança”, seria o maior dos males. Porque ela representa a falta em si, a tensão insaciada, a dimensão do projeto, faz o indivíduo correr atrás de metas, suprema ilusão de felicidade futura, adiada, a ser construída, ainda inexistente. Estranha fuga para adiante, assim que o objetivo é alcançado, surge outro em seu lugar. Assim como tentar alcançar o horizonte: não importa quantos passos você dê, se muitos ou poucos, o horizonte continuará lá, à sua espera. Como crianças que se desinteressam pelo brinquedo no dia seguinte ao Natal, a posse dos bens tão ardentemente desejados não nos torna mais felizes do que antes. Como diz Epicteto: a vida boa é a vida sem esperanças e sem temores, a vida reconciliada com o que é, a existência que aceita o mundo tal como é. Numa atitude de não-apego aos bens deste mundo, que são passageiros.
Por exemplo, quando você vai tomar um banho de mar, quando põe a máscara para observar os peixes, você não mergulha para mudar as coisas, nem para melhorá-las ou corrigi-las, mas, ao contrário, para admirá-las e amá-las. É mais ou menos segundo esse modelo que o estoicismo nos estimula à reconciliação com o que é, com o presente tal como ele é, para além de nossas esperanças ou nossos remorsos. É para esses momentos de graça que ele nos convida, e para multiplicá-los, torná-los tão numerosos quanto possíveis, ele nos sugere, de preferência, a mudança de nossas expectativas, e não da ordem do mundo. Daí ele nos fazer outra recomendação essencial: já que a única dimensão da vida real é o presente e já que, por definição esse presente vive em perpétua flutuação, é sábio não se apegar ao que passa.
"A coisa mais divina que há no mundo
é viver cada segundo
    como nunca mais..."
 Vinícius de Moraes

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Provas da existência de Deus: 003

Argumento dos Mundos Diferentes.

Se as coisas tivessem sido diferentes no mundo, as coisas seriam diferentes.
Isso seria ruim.
Portanto, Deus existe.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Critérios diagnósticos para depressão

Baseado nas diretrizes da Associação Psiquiátrica Americana, modificado.
Humor deprimido, tristeza ou sensação de vazio. Interesse e prazer acentuadamente reduzidos pelas atividades que antes eram agradáveis. Alteração de peso, sendo mais comum o emagrecimento. Alterações de sono, como insônia ou sonolência diurna. Fadiga, perda de energia. Agitação ou retraimento. Sensação de inutilidade ou culpa, excessivos ou inapropriados. Indecisão, dificuldade de concentração, baixo rendimento intelectual, queda na produtividade no trabalho. Lembranças do passado, pensamentos predominantemente mórbidos, com elementos (muitas vezes irreais) de ruína iminente, desesperança e morte, por vezes de suicídio.
Tais sintomas causam sofrimento importante, atrapalhando no desempenho profissional, nos relacionamentos sociais e no lazer. Geralmente não são compreendidos por pessoas próximas que costumam atribuir o quadro a uma “fraqueza de caráter”, o que só agrava a situação.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pacientes que não tive 09: James Ussher

Arcebispo de Armagh, James Ussher (Dublin, 4 de Janeiro de 1581 — 21 de Março de 1656), baseando-se na Bíblia, escreveu o livro "The Annals of the World" em 1658. Baseando-se no número de gerações, na duração média da vida humana e nas principais figuras bíblicas desde Adão e Eva até ao nascimento de Jesus, Ussher afirmou que a terra tinha sido criada às 9 horas da manhã do dia 23 de Outubro de 4004 a.C(domingo). Este teria sido o dia da criação. O dia da expulsão de Adão e Eva do paraíso foi determinado como sendo em 10 de novembro de 4004 a.C(segunda), a data da parada da arca de Noé no Monte Ararat (Turquia) em 5 de maio de 2348 a.C (quarta). Tal precisão conferiu-lhe grande credibilidade entre os seus contemporâneos.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Religião e crack

Segundo o dr. Ronaldo Laranjeira, em sua palestra: "psiquiatria e violência; custo social do abuso de substâncias", fica claro que na difícil luta contra o crack, temos pouco a esperar da farmacologia, mas muito devemos a medidas de cunho social, nossa maior esperança nessa área. Medidas como a lei seca de Diadema, que fecha os bares à noite, conseguiu por si só uma redução de 80% nos índices de homicídio. Mas ele reconhece mesmo o papel da religião como fator de proteção contra a violência. Considera a religião como um aliado poderoso na luta contra as drogas, setor em que pouco podemos esperar da medicina isoladamente.

Provas da existência de Deus: 002

O argumento do raciocínio cartesiano:

Penso, logo existo.
Deus pensa mais e melhor do que eu.
Tudo o que Ele faz acaba saindo melhor do que o que eu fiz
Portanto, Deus existe.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Notícias do Congresso Brasileiro de Psiquiatria

Com certeza o ponto alto deste primeiro dia de congresso foi a conferência do Dr. Ivo Pitanguy sobre "aspectos filosóficos e psicossociais em cirurgia plástica".
O pitoresco foi a exibição comparativa de duas fotos de Arnold Schwazeneger, nos tempos de mister universo e do atual governador da Califórnia, que serviu de base para a discussão de um problema ainda não catalogado pelo código internacional de doenças (CID), a vigorexia. Trata-se de algo comum nas academias: pessoas com obsessão pela forma física, escravos de exercícios, eternamente insatisfeitos com o resultado deles e sua auto-imagem. O cara está muito feio, parece um gordo deformado por massa muscular excessiva. Vale uma pesquisa da foto no google, quem achar me passa o link que vale a pena comentar com vocês o que se discutiu por aqui.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Prece da Serenidade

Uma prece singela de imensa sabedoria e bom-senso. Atribuída a São Francisco de Assis, se tornou o lema principal que norteia a filosofia dos Alcoólicos Anônimos. O primeiro dos 12 passos na cura do alcoolismo é o reconhecimento do poder do àlcool sobre o dependente, algo que ele não pode mudar. O que é diferente de dizer que não haja nada a ser feito. Ilustra o que penso, que tanto a medicina, como a filosofia e a religião, todas podem caminhar juntas em busca do bem-estar, do equilíbrio e da saúde.

"Deus, me conceda a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar,
 a coragem para mudar as coisas que eu posso mudar,
 e a sabedoria para distinguir uma coisa da outra."


O amor ao conhecimento

Filosofia, etimológicamente vem de: amor (philo) ao conhecimento (sofia). A filosofia não possui o conhecimento, isso é atributo das ciências. A filosofia admira o conhecimento. Ela não busca conhecer objetivamente, mas busca um sentido para o mundo, e como nossa vida nele se inscreve. Aqueles que se interrogam sobre a vida e sobre a melhor maneira de conduzi-la não costumam ser indiferentes às questões filosóficas.
Sem contar a antiguidade grega, em todas as civilizações que conhecemos, as religiões ocupavam o lugar da filosofia. Detinham o monopólio das respostas para as perguntas sobre a salvação, dos discursos destinados a acalmar as angústias provenientes do sentimento de mortalidade. Era na proteção dos deuses que os homens buscavam segurança. Mas alguns procuraram na razão respostas para o alívio de seus medos. Por que isso, o nascimento da filosofia, se deu na Grécia? Talvez porque, em sua tradição de democracia, os cidadãos estivessem, em suas assembléias, mais habituados à discussão, à argumentação, e ao uso do bom-senso no convencimento de suas idéias, que não fosse por meio de dogmas, ou imposição por autoridade. Não é preciso ser um grego antigo para ter essa postura.
Zenão de Cítio (334-262 a.C.) ensinava sob arcadas, “pórticos” (stoa em grego), daí a origem do termo estóico, escola da qual é considerado fundador. Sabendo que os homens não são autores ou inventores do universo, convida-os a apreciar a estrutura ordenada do mesmo, sua harmonia ou “cosmos” (daí deriva “cosmético”). Sugeria um esforço para reconhecer o essencial do mundo, aquilo que é mais importante, real ou significativo, através da observação e do estudo. Assim, do ponto de vista estóico, o cosmos é, com exceção de alguns episódios acidentais e transitórios (como as monstruosidades e as catástrofes), essencialmente harmonioso. A felicidade consistiria, para a vida humana, em encontrar seu lugar na ordem cósmica.

domingo, 24 de outubro de 2010

Congresso Brasileiro de Psiquiatria

No momento estou em Fortaleza, exercendo o sacrifício epicurista das praias, cervejas e bares. Aproveito para reforçar a campanha contra a prostituição infantil, abominação aos olhos do Senhor. Sabemos que prostituição é coisa muito séria para se deixar ao cuidado de crianças. Mas pelo que estou podendo observar, parece que aqui nesta parte o povo não liga muito para estas coisas. Ao retornar, levarei as novidades da psiquiatria atual para os pacientes que ainda me restam... 

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Provas da existência de Deus: 000

Tenho sido vítima de intensos ataques difamatórios, acusando-me de ateísmo e outros absurdos que não sou. Isso me incentivou a divulgar alguns argumentos que normalmente costumo evitar, para não ser taxado de fanático militante.
Estão disponíveis no link: http://www.godlessgeeks.com/LINKS/GodProof.htm  algumas maravilhosas provas da existência de Deus. Caso seja de interesse, podemos incluí-las em futuros tópicos neste blog.

Corruptores da Felicidade


Nosso pensamento guarda a estranha capacidade de nos fazer viajar para dimensões irreais. Através da abstração, somos capazes de pensar nos tempos passados e futuros. Mas eles não existem de verdade, o passado não existe mais e o futuro não existe ainda. Não passam de miragens traiçoeiras e assassinas, ímas que atraem infelicidades. O passado nos lembra o que poderia ter sido melhor, o que poderia ter sido diferente, nos arrasta para a nostalgia, a culpa, o arrependimento. Ou pode nos assombrar, como as recordações dos “paraísos perdidos”, felicidades que não estão mais presentes, saudades de entes queridos que se foram (em geral, idealizados após a morte), momentos perfeitos que pertencem à esfera do “não voltam mais”, “nunca mais”. O passado não voltará, nem pode ser mudado, mas pode ser paralisante. Conheço pessoas que param numa determinada fase da vida, incapazes de seguir em frente, se lamentando de injustiças sofridas ou fixadas a períodos de felicidade passados. São anacronias vivas, vestem roupas de outras épocas, ouvem músicas do “seu” tempo, ficam cada vez mais desligadas de seu entorno.
O futuro também não existe, não adianta viver na fantasia dos projetos daquilo que poderá vir a ser, pois sempre poderia ser melhor. Existem outras pessoas que deixam de viver o presente, se guardando para um futuro que não chegará nunca. Não se vive entre lembranças e projetos, só o que nos compete é viver o hoje (será que ele está sendo bem aproveitado?). Dois exemplos de tempo desperdiçado, de “morte” interior. E o tempo é nossa maior preciosidade, está contado, correndo, e não vai voltar. Somos capazes de usar nosso discernimento para percebermos estas verdadeiras armadilhas do pensamento, para então tomarmos atitudes que melhorem nossa capacidade de nos sentirmos bem. É possível viver melhor o hoje, sem lamentar pela felicidade perdida ou esperada. O que se tem é o presente, o agora. É aquele no qual se pode viver e ser feliz, a única instância real, a oportunidade de sentir prazer ou bem-estar.

domingo, 17 de outubro de 2010

Pacientes que não tive 08: Inri Cristo

Inri Cristo reencarnou no dia 22/03/48, em Indaial, Santa Catarina, com a ajuda de uma parteira e pais biológicos não revelados. Desde a infância foi acompanhado por uma voz em sua cabeça, lhe orientando pela dura e incompreendida vida à qual havia sido destinado. Aos 33 anos, após jejuar por vários dias no Chile, teve a revelação de sua verdadeira identidade pela “voz”. Fundou a SOUST (Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade), em obediência a seu Pai, Senhor e Deus. Desde então se dedica a divulgar suas verdades e lutar contra aquela que se tornou a “meretriz do apocalipse”, a Igreja Católica, declarada proscrita pelo Altíssimo em 28/12/82, resgatando os puros ensinamentos deixados pelo Filho do Homem antes de ser crucificado. No histórico domingo de 28/02/82, após reunião com mais de dez mil seguidores na Praça Dom Pedro II, seguiu em procissão até a Catedral Metropolitana de Belém do Pará, onde interrompeu a farsa chamada missa e expulsou os sacerdotes bradando: "Saiam daqui, ladrões mentirosos, adoradores de ídolos, vendilhões de falsos sacramentos, eu sou Cristo!". Ato contínuo subiu no altar e praticou o gesto libertário: arrancou a estátua da cruz e quebrou-a ante o olhar estupefato dos presentes que exclamavam: "Cristo! Cristo! Cristo!". Mostrou através deste ato não ser um bonequinho pregado na cruz, mas o Cristo vivo, de carne e osso.Isso motivou sua prisão por 15 dias, e uma avaliação por uma junta psiquiátrica que se reconheceu incompetente para avaliar a sua sanidade mental.
Desde então, Inri Cristo tem viajado pelo mundo, cercado de polêmica e incredulidade, divulgando a palavra do Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Foi expulso dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França. De volta ao Brasil, após anos de processo por falsidade ideológica, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná reconheceu o seu direito de usar o nome Inri Cristo junto a seu nome de batismo em todos os seus documentos.Lembro-me bem como fiquei impressionado ao ver uma entrevista com seus discípulos. Ao ser perguntado por que acreditava que ele realmente é a reencarnação do Cristo, seu seguidor prontamente respondeu: “eu não acredito, eu sei!”
Como o Cristo original, ele tem sido criticado, humilhado, ridicularizado em praça pública. Diga-se dele o que se quizer, jamais se poderá dizer que ele não é um personagem pitoresco, um grande pensador e sobretudo um grande democrata.
Sugiro uma visita a seu site oficial: http://www.inricristo.org.br/index.php/pt/home

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Salvação sem Deus

De maneira diferente das ostras, das plantas e dos insetos, os homens sabem de sua mortalidade, de que estão com os dias contados, que morrerão, que serão separados daqueles a quem amam. Pode-se viver sem pensar nisso, que parece muito mórbido, doentio. Acontece que, cedo ou tarde, todos serão obrigados a lidar com tão desagradáveis fatos. É inevitável, eu garanto. A existência terrestre, pode se mostrar frustrante ou pelo menos inquietante. A consciência da morte, em alguns, gera interrogações intensas. Esse tema tem sido levantado pela filosofia de maneira constante. Montaigne dizia que “filosofar é aprender a morrer”. Spinoza, que “o sábio morre menos que o tolo”. Kant pensava sobre “o que nos é permitido esperar”. Pensar pode gerar angústias paralisantes. Imagino que os animais, as plantas e os tolos não passem por isso. Alguns aceitam as promessas de determinadas religiões e se tranqüilizam que serão “salvos”. Para estes, as dúvidas podem ser vistas como ruins, uma vez que os afasta da fé, da crença, da certeza. Outros duvidam dessas promessas, sentem que o irreparável não é uma ilusão, se interrogam sobre como seria a melhor forma de ocupar o tempo limitado a que nos cabe. A mesma capacidade de pensar que gera o desconforto pode, por outro lado ajudar a vencer medos paralisantes. Aqueles que não se satisfazem com as respostas das religiões, às vezes encontram grande satisfação e elementos para vencer medos, uma vida mais satisfatória e gratificante, com mais alegria, pelo próprio pensamento, pela razão, por si mesmo, pelo bom-senso, buscando uma vida boa fora dos dogmas e regras das religiões. Não dependente de um outro externo, mas de si mesmo. Esse pode ser um papel da filosofia, uma “salvação sem Deus”. Estes são elementos epicuristas, como já disse, estão no centro da “Medicina da Alma”.

“Um tolo não vê a mesma árvore que um sábio vê.” William Blake (1757-1827)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Medicina da Alma

É da natureza da ciência, não só permitir, como estimular, sua própria revisão pelo pensamento crítico e livre. Teorias científicas quando se revelam falsas, caem em desuso e são substituídas por outras mais consistentes. De maneira diferente, as filosofias do passado não se tornam “ultrapassadas” ou “superadas”. Nesse sentido, a história da filosofia se aproxima mais com a das artes do que com a das ciências. Assim, não faz sentido dizer que uma obra de Van Gogh é “mais bonita”, ou “mais avançada” do que uma pintura de Michelâgelo, pois são formas de expressão distintas. Da mesma forma, não há como dizer que as reflexões de Kant ou Nietzsche são “superiores” (nem “inferiores”) àquelas de Platão ou Buda; nelas existem proposições de vida, atitudes em face da existência, que mesmo com o passar do tempo, não se tornam obsoletas, e continuam nos falando com propriedade.
O estudo da filosofia nos traz compreensão e conhecimento do mundo, de nós e dos outros, podem ajudar-nos a viver melhor diante de medos que paralisam a vida. É possível dar ouvidos a filosofias antigas, sem senti-las ultrapassadas, pois continua havendo nelas algo que nos fala.
Epicuro de Samos (341-271 a.C.), filósofo grego do período helenístico, viveu uma vida atormentada pela dor física, possívelmente sofria de cálculos renais, o que, com certeza contribuiu na construção de seu pensamento. Elaborou uma filosofia culo objetivo último era melhorar a vida, atingir a felicidade, sem recorrer a qualquer método ou entidade sobrenatural, baseada apenas no bom senso e racionalidade crítica. Sobre ele começarei a escrever agora, bem como sobre seu método, que deu nome a este blog, pois ele o chamava de “Medicina da Alma”.

"A morte é uma quimera: porque enquanto eu existo, não existe a morte; e quando existe a morte, já não existo."

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Higiene do Sono

Mais da metade da população apresenta distúrbios do sono, no mínimo intermitentes. Cerca de 20% dos adultos relatam perturbações crônicas do sono, índice que se eleva para 80% dos pacientes psiquiátricos. Há dois tipos mais comuns de insônia: as situacionais, que atingem pessoas que passam por dificuldades ocasionais, como seqüestro ou assalto; ou aqueles que sofrem de doenças psicofisiológicas mais graves, como depressão ou ansiedade. Também atormenta trabalhadores com turnos alternados (médicos psiquiatras em plantões noturnos) e pilotos de avião que mudam frequentemente de fusos horários, não conseguindo criar uma rotina para o sono. Antes de fazer uso de medicamentos para dormir, medidas simples podem melhorar, e muito, a qualidade do sono. Constituem a higiene do sono.
Dormir apenas o tempo suficiente para se sentir bem. Nunca ficar na cama mais do que o necessário, o que pode fragmentar o sono da noite seguinte. À noite, não tomar café, chá preto, bebidas tipo cola, guaraná ou álcool. Este, embora pareça induzir o sono, piora sua qualidade, usualmente com despertar precoce. Nunca ler ou assistir TV na cama, faça-o em outro lugar e só vá para a cama a fim de dormir. Estabeleça horários regulares para acordar, não cochile durante o dia. Tenha um jantar leve, não durma após refeições pesadas, nem com fome. Não faça exercícios vigorosos à noite. Não “brigue” com a cama, se não conseguir dormir, levante e faça algo enfadonho, como ler um blog entediante.
Lembre-se: remédios para dormir costumam gerar dependência.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pacientes que tive

Mulher, 45anos, nível universitério. Diagnóstico: TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).
Queixa-se que alguns de seus sonhos não tem um desfecho adequado. Luta para voltar a dormir, entrar no mesmo sonho de novo e mudar seu final. Raramente tem sucesso, mas não cansa de tentar.

Síndrome do Cólon Irritável

Muitos pacientes procuram atenção médica por apresentarem sintomas digestivos desagradáveis, costumam ser submetidos a exames invasivos como endoscopias e colonoscopias, para ao final ouvirem dos médico que nada foi encontrado. Nada pior para um paciente com queixas legítimas do que ouvir do médico que ele “não tem nada”. Afinal, ele pensa que não é louco (o paciente). A doença clínica mais comum do aparelho digestivo se chama Síndrome do Cólon Irritável. Caracteriza-se por alterações nos hábitos intestinais, como prisão de ventre e diarréia alternadas, dor abdominal crônica, intolerância a alimentos específicos, dor ou seu alivio à defecação, distensão e desconforto abdominais, e às vezes, fraqueza. Costuma ter início antes dos 30 anos, é mais comum em mulheres e costuma ser agravado por fatores ambientais estressantes. Os pacientes com esse diagnóstico apresentam uma freqüência aumentada de distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade, dificuldades de relacionamento afetivo e muitas vezes atravessam períodos difíceis da vida. Um pronto-socorro clínico muitas vezes submete estes pacientes a baterias de exames cansativos, dolorosos e inconclusivos. O tratamento se faz com medicamentos antidepressivos e a melhora muitas vezes é notável. Esta é mais uma situação que ilustra o papel do psiquiatra diante de problemas aparentemente de competência de outros especialistas. Psiquiatria, além de outras coisas interessantes, também é medicina.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Arca de Noé

Após consultar o Conselho Regional de Medicina, os códigos de ética médica, teólogos e autoridades na área, fico mais tranqüilo em realizar o desejo de um paciente, que apenas quer ter divulgado seu pensamento. Deixo claro que não compartilho de suas opiniões e respeito o anonimato de sua identidade. Ele deseja fazer contato com quem nele acredite. Seu texto é o que abaixo se segue:

"Toda a polêmica gerada , extensamente discutida e examinada, poderá ser sanada com o conhecimento da verdade dos fatos:
1-A Palavra;
Gênesis,cap7:
-vers11-"No ano seiscentos da vida de Noé,no segundo mês,no décimo sétimo dia do mês,precisamente neste dia, romperam-se todas as fontes do grande abismo e abriram-se as comportas do céu."
-vers13-"No mesmo dia entrou Noé na arca..."
-vers15-"Junto com Noé entraram na arca, dois a dois, um par de tudo o que é carne com hálito vital"
-vers22-"Tudo o que tinha hálito vital nas narinas e que existia em terra firme pereceu"
-vers23-"...ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca."
2-A Polêmica: Diz respeito à alimentação e ao equilíbrio ecológico pós-diluviano.
3-Percalços: O Inimigo está sempre atento e pronto a desviar os homens da verdade.
4-Solução: Ignorar totalmente o Maligno, que astutamente se utiliza de ingênuos "cientistas" para distorcer os fatos e confundir os homens. Vamos nos ater às palavras de Deus e seu conhecimento,sem desvios.

5-Conclusões:
Fato: Os animais entraram na arca.Todos aqueles que foram criados no sexto dia.Vocês, ingênuos ateus, detém-se na questão da alimentação do casal de leões, que é uma questão menor. Não sei onde está o senso crítico de seus cientistas que parecem não perceber que o mais difícil foi a localização dos insetos. Deus havia criado cerca de um milhão e duzentas mil espécies deles. Trezentas mil, só entre os coleópteros (besouros). Deus amou muito a criação de besouros, refinando-a ao extremo. Noé teve muito trabalho em reconhecer, diferenciar, classificar e coletar tantos espécimes de besouros e teve de fazê-lo num único dia. Para se ter uma idéia da monumentalidade desta tarefa, vale dizer que desde que Lineu começou a classificar os seres vivos em uma taxonomia racional, há mais de 200 anos até hoje , os estudiosos do assunto ainda não terminaram a tarefa de classificar os besouros. Noé fê-lo num único dia, dentre outras tantas e difíceis tarefas. Deus amava muito os besouros. Mas amava mais ainda os peixes e os seres que vivem sob as àguas em geral. Camarões, bivalves, lulas, plâncton. Pois que seu hábitat foi expandido ao extremo e proliferaram como nunca. A salinidade baixou (um efeito não previsto por Deus), permitindo o desenvolvimento da inteligência dos cetáceos. Este foi o período em que golfinhos e baleias aprenderam a se comunicar. Como o som se propaga muito melhor no meio líquido, mais denso que o ar, este último funcionou como um isolante acústico, impedindo que Deus ouvisse o canto das baleias lá no céu. Estas, preteridas por Deus, que amava mais aos besouros, estando também físicamente mais próximas dos abismos do inferno, aliaram-se ao Maligno num plano até hoje não completamente desvendado (Aquele que souber mais a respeito, por favor informe este soldado de Deus em sua batalha pela verdade).Só o que sei é que esta batalha prossegue nos dias de hoje. Alguns Santos homens, cientes destes atos, dedicaram suas vidas ao extermínio e massacre impiedoso das baleias, quase obtendo êxito em seus intentos. Quando a batalha estava quase ganha, e
as baleias próximas à extinção, mais uma vez o Demônio foi astuto em iludir os homens. Enviou "cientistas" dedicados a lutar pelas baleias, contra Deus, confundindo os homens em sua ignorância dos fatos, iludindo-os com idéias conservacionistas, ecológicas. Assim fiquem atentos: Santos são aqueles que matam os cetáceos e os animais irracionais em geral. Malignos os que usam a ciência para confundir os homens!"

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Pacientes que não tive 07: Émerson Fittipaldi

Hoje no rádio ouvi Felipe Massa dizer que os verdadeiros campeões usam o desodorante tal, não lembro exatamente qual, o que é uma pena pois devo ir às compras em breve. Eu nunca compartilhei do entusiasmo de alguns pela fórmula-1 ou corridas de carros em geral. Na infância eu gostava de brincar com carrinhos, autorama. Mas depois que cresci, carro virou coisa séria. Pilotos para mim parecem crianças grandes que não enjoaram do brinquedo.
Há 13 anos atrás, em setembro, Emerson Fittipaldi sofreu um acidente quando voava em seu ultraleve (outro brinquedo perigoso), com seu filho Lucca, então com 6 anos de idade, vindo a cair em uma região pantanosa próximo a Araraquara, sofrendo ferimentos leves. Incapaz de se locomover, foi localizado e resgatado na madrugada seguinte por 5 bombeiros e 5 policiais.
Dias depois, os meios de comunicação veicularam uma propaganda absurda, com depoimento verbal e emocionado do próprio Emerson, no qual ele contava como o filho fora corajoso, como ambos ficaram felizes e agradecidos ao verem chegar o resgate da Amil. Simultaneamente aparecia na tela um helicóptero da Amil, induzindo a falsa idéia de que ele havia participado heróicamente do resgate. Tudo bem que Émerson seja um garoto propaganda que anuncie kits de emagrecimento, charutos, baterias, roupas, etc. O que me é intolerável é a idéia de um anuncio enganoso para um plano de saúde, com o qual as pessoas normalmente não podem contar na hora do aperto, passando a falsa ilusão de segurança, aproveitando-se da fragilidade e medo alheios, simplesmente por ganância, de um homem já milionário. Um comportamento egoísta e imaturo. Procurado na época pela reportagem da revista Veja por uma semana, para ouvir sua versão do fato, sua acessoria alegou "não encontrá-lo".
Aqueles que o salvaram viraram chacota entre os amigos, por terem sido os únicos que não lucraram com o episódio. O sargento Ricardo Pena, por exemplo, disse ter atravessado um pântano com lodo “até o pescoço”, de madrugada para chegar até onde estava o bicampeão. A equipe ganhava, em média, um salário de 600 reais à época, arriscando a própria vida. O Cel. Renato Fernandes, comandante dos bombeiros de SP, responsável pelo resgate, declarou que ficaria satisfeito pelo menos com o reconhecimento do esforço de seus homens.
Que inversão de valores! Os verdadeiros heróis, continuam anônimos, com um salário de fome. O menino grande fica incólume, com a fama, a glória e a fortuna.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Astronauta Brasileiro

Em 2006, o governo brasileiro gastou dez milhões de dólares para que Marcos Pontes, embarcasse como passageiro numa nave espacial russa, passando uma semana em órbita da terra. Nessa oportunidade, ele levou a cabo experimentos científicos sugeridos por alunos do ensino fundamental, como plantar feijões em algodão e ver como se comportavam na ausência de gravidade. Enquanto isso, o programa espacial brasileiro acumula fracassos, como a explosão da base de lançamento de Alcântara, que matou 20 funcionários em agosto de 2003. Fernando Reinach, biólogo, Ph.D. pela Cornell University, grande divulgador de ciências no Brasil, calculou, com base em dados do CNPQ, que com o dinheiro gasto na brincadeira desse passeio espacial, poderiam ter sido formados 290 novos doutores, no exterior, num prazo de 5 anos. Ou seja, o dinheiro público que deveria ser investido em educação, foi gasto em um golpe publicitário. Sorte do astronauta. Dois meses após a viagem, ele pediu baixa de seu posto, se aposentou na reserva remunerada da FAB, com apenas 43 anos de idade. Hoje em dia, Marcos Pontes hoje ganha muito dinheiro posando ao lado de travesseiros. È o que se espera de um governo liderado por um homem que se orgulha de não ter estudado.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Branca de Neve e a Madrasta

Nasce um bebê. Aquele que se torna objeto da adoração dos pais, que nele tudo investem, está predestinado a substituí-los no futuro, ocupando seu espaço. Isso acontece de forma particularmente dolorosa para as mulheres, como ilustra a fábula de Branca de Neve, um conto antigo, cuja narrativa remonta a séculos na Europa, sendo sua versão cinematográfica dos estúdios Disney, de 1937, a mais conhecida. Seu título moderno é infeliz ao enfatizar os anões, quando o centro da atenção seria o destronamento da madrasta (ao lado) que envelhece, enlouquecida de ciúme, ante o desabrochar da beleza e juventude da filha. É um tratado sobre a tragédia feminina, os poderes, perigos e magia da beleza da mulher e da ruína que ronda o descontrole sobre as paixões, o aniquilamento do ser ante a negação do envelhecimento, da substituição, da finitude. A estória explora os poderes femininos em três gerações. A puberdade, cujo fascínio adolescente repousa inerte, passivo, desarmado, à mercê de nossa idealização, adormecido na caixa de vidro à espera do príncipe. A fase adulta da madrasta, que sabendo-se a mais bela de todas, poderosa, sedutora e desejável, não cansa de repetir a mesma pergunta ao espelho, possível olhar masculino presente na intimidade de seu quarto. Qual a mulher que se cansa de ser admirada? Todos conhecem moças que nunca param de perguntar se ainda são amadas, não adianta repetir isso mil vezes. E por fim, a bruxa, que despojada dos atrativos físicos da juventude possui outros feitiços...

Quando nasce Branca de Neve, sua mãe providencialmente morre para ser substituída pela madrasta, a quem estão todos autorizados a odiar (quem agüenta odiar a própria mãe?). Assim, a madrasta, o espelho na parede e o caçador são os pais disfarçados. Por mais poderosa que seja, a madrasta não convence o caçador a matar Branca de Neve (ele a abandona na floresta), nem consegue manter para sempre a atenção do espelho, que tudo sabe e nunca mente. Não há espaço para duas mulheres desejáveis na família, uma deverá sair. Quem são os anões? Criaturas pré-púberes (pré-edípicas), com o tamanho de crianças e barbas de velhos, ambos excluídos do jogo sexual, não representando perigo algum à inocência de Branca de Neve, companheiros de infância, advertem-na dos perigos da bruxa, sem sucesso, pois suas visitas (da Bruxa) despertam elementos sexuais reprimidos, representados pela maçã envenenada. A incapacidade de Branca de Neve em resistir à tentação a torna mais humana, seu desmaio simboliza o esmagamento ante desejos conflitantes, e seu sono letárgico, uma morte simbólica, um rito de passagem, do qual ela desperta, de indefesa, para uma nova existência, poderosa.

...e todos vivem felizes para sempre? Nada disso, a seu tempo a tragédia se abaterá sobre Branca de Neve exatamente do mesmo jeito, quando o espelho anunciar mais um destronamento. Mas desse fato as crianças são poupadas. Schopenhauer e seus seguidores, infelizmente não.

domingo, 22 de agosto de 2010

A traição E Capitu

Não importa se Capitu traiu ou não Bentinho. Não faz qualquer diferença. A traição não importa, o que importa é o sofrimento, que pode (ou não) acompanhá-la, pois na imensa maioria das vezes, o ciumento sofre sem que a traição tenha ocorrido, bem como o traído nunca desconfia de nada, assim (disso) não sofre. O que vale ser pensado é o mecanismo que leva à dúvida e ao ciúme, um sentimento cruel, no mais das vezes injustificado, que atormenta e aniquila aquele que o alimenta. É inútil Bentinho perguntar a Capitu se ela o trai. Se ela admitir, não existe “traição”, entendida como mentira. Se ela negar, continua-se no mesmo pé, sem saber, ou seja: não há como saber. Esse é o centro da questão, diante disso, que fazer? Só há uma solução: não pensar a respeito. Fácil assim? Não para Bentinho.
O ciúme tem origem natural, instintiva e complexa; envolve sentimentos de apego, posse, insegurança, medo. Por mais provas de fidelidade que o ciumento receba, nunca ficará satisfeito. Continuará a procurar “evidências” da traição, podendo “encontrá-las” em toda parte. É isso que Machado de Assis faz o tempo todo em “Dom Casmurro”. Ao transformar o leitor em parceiro dos pensamentos íntimos de Bentinho, ele nos torna cúmplices de nada mais do que uma versão dos fatos. Uma versão é uma visão parcial deles, e com toda a certeza, tendenciosa. Desde o início do livro, que a cada nova leitura fica melhor, o autor nos induz sutil e lentamente a desconfiar de Capitu.

Perguntaram-me se acho que Capitu foi “culpada”. Eu não gosto do termo “culpa”, assim como não gosto dos termos “desculpa” ou “perdão”, pois acho que tem uma forte conotação religiosa. Não sou religioso, e não é de meu feitio culpar nem perdoar ninguém. Me considero alguém que pensa, procuro entender, não julgar. Agora, se me perguntarem se acho que ela traiu ou não Bentinho, eu respondo: não tenho a mínima idéia, nem curiosidade. Mas acrescento: se alguém carrega chifres, deve ter feito algo para merecê-los.

sábado, 7 de agosto de 2010

Debate Político

Anteontem tivemos debate político na TV. Foi constrangedor. Fiquei pensando a respeito do comportamento e do discurso ideológico-partidário, lembrei de um amigo que, embora inteligente, para defender o Lula, usa de argumentos tão malucos, que parece ter perdido a lucidez. É um discurso apaixonado, irracional, de caráter quase religioso. Grandes absurdos e idiotices são ditas nestas circunstancias. Alguém poderia imaginar que o texto que se segue não foi de gozação? Pois foi publicado imediatamente após a morte de Stálin, pelo France Nouvelle (jornal do Partido Comunista Francês), e não me surpreenderia que alguém o endossasse atualmente. Lá vai:

"O coração de Stálin, o ilustre companheiro de armas, e o prestigioso sucessor de Lênin, o chefe, o amigo e o irmão dos trabalhadores de todos os países, deixou de bater. Mas o stalinismo vive, ele é imortal. O nome sublime do mestre do comunismo mundial resplandecerá com uma claridade flamejante pelos séculos e será sempre pronunciado com amor pela humanidade. A Stálin permaneceremos fiéis para todo o sempre. Os comunistas se esforçarão para merecer, por sua dedicação incansável à causa sagrada da classe operária.... o título de honra de stalinistas. Glória eterna ao grande Stálin, cujas imperecíveis obras científicas nos ajudarão...."

Para quem não acredita, tem mais. Recentes palavras de Oscar Niemeyer: "Alcança enorme sucesso na Europa um livro que reabilita Stálin, figura tão deturpada e injustamente combatida pelo mundo capitalista". Folha de São Paulo, 09/01/2009

sábado, 24 de julho de 2010

Pacientes que não tive 06: São Domingos de Gusmão

Ao lado de São Francisco de Assis, marcou o século XIII com sua santidade vivida na mendicância e no total abandono em Deus e desapego material. Foi o fundador da Ordem dos Irmãos Pregadores Cavaleiros de Cristo (1215), mais conhecida como Dominicanos ("domini canis", ou cães do senhor), responsável pela formação de doutores como São Tomás de Aquino. Nascido na região da atual Espanha em 1170, de família  notória (dois de seus irmãos morreram em odor de santidade), numa época assolada por movimentos hereges. Sua mãe sonhou que ele nasceria com uma tocha na boca, com a qual incendiaria o mundo. Atraído para a virtude desde o berço, diz-se que de pequeno já era prodigiosamente dotado da sabedoria de anciãos. Rodeado de glória, cuidava de doentes nos hospitais. Pobres, órfãos e viúvas não ficavam desamparados em sua presença.
Dedicou-se a reconduzir a Deus as almas extraviadas pelas heresia albigense, dos cátaros. Regava as verdades com afetos piedosos a fim de que germinassem os frutos da salvação. Estremecia ao saber que tantos se perdiam por falta de pregação, sentindo de longe o cheiro dos inimigos da fé. Foi então designado pelo Papa a impulsionar a Santa Inquisição, à qual se dedicou com heróico fervor, culminando na formação da Cruzada (guerra) contra os Albigenses (1209-1229), pelo Papa Inocêncio III. A luta era feroz, mas seus sábios métodos, infalíveis. Perguntado como distinguir os piedosos dos infiéis, em uma cidade albigense, São Domingos, replicou: "Mate-os a todos, Deus saberá quem são".
Falecido em 1221. Canonizado em 1234.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Freud na fogueira

Na noite de 10 de maio de 1933, em Berlim os nazistas queimaram mais de 20.000 publicações, entre livros e revistas, dos mais variados temas, livros de ciências, poesia, literatura, psicologia... Qualquer assunto poderia ser considerado "impróprio" (Freud, por exemplo, por ser um autor judeu e falar de sexo). Foi feita uma pilha de livros que virou uma fogueira. No mesmo local, hoje chamado Bebelplatz, foi construído em 2006 um monumento (foto menor) para que o sinistro episódio fosse sempre lembrado. No subterrâneo da praça foi construída uma biblioteca com estantes vazias, que pode ser vista da praça, através de um piso de vidro. Em uma placa, a frase do poeta Henrich Heine: "Onde se queimam livros, no final também se queimam pessoas". Hitler era vegetariano, muito apegado a seus cães, não fumava e não bebia. Freud era carnívoro, bebia e fumava tanto que desenvolveu câncer na boca, o que veio a matá-lo em 1939, ano do início da II Guerra. Hitler se matou em 1945 ao final dela (seu amado cão também se matou), mas ele não será agraciado com um tópico de suicida ilustre, esse eu deixo passar.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

É pior ir ao psiquiatra do que ter um infarto (sic)

Foi muito bem colocado, por nosso querido "anônimo" o comentário que lembra Vinícius de Moraes, no samba "Como dizia o poeta", primeira composição da parceria com Toquinho, baseado num adágio de Tomasso Albinoni, falecido há mais de dois séculos, que, segundo o poeta, deveria estar muito feliz com o resultado, em sua tumba. Acontece que, caso tenha passado despercebido, no mesmo samba se insere uma poesia ocasional, declamada por Vinícius, na qual ele afirma que ir ao psiquiatra é pior do que sofrer um infarto. A mensagem é linda, a vida deve ser vivida e aproveitada, com paixão e intensidade, pois é passageira (...carpe diem; memento mori) e lá um belo dia, algo põe fim a tudo isso. Confesso que, embora ele esteja coberto de razão quase sempre, não fiquei feliz com a idéia que o poeta tem de minha classe. Pena que não seja mais possível discutir isso com ele durante um porre, pois agora ele está junto de Albinoni!

Para quem quiser ouvir do que se trata (vale a pena), este é o link:
http://www.youtube.com/watch?v=fXNG2SVSIUE&feature=related

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Memento Mori

Máxima romana. Frase sussurrada por um escravo a um general romano, durante um desfile comemorativo a uma vitória militar, para que ele não se sentisse semelhante aos deuses, significando:"lembra-te de que vais morrer". Uma advertência para que não esqueçamos da brevidade da vida. Tornou-se muito popular durante o atormentado período barroco, ocasião em que as pessoas levavam consigo amuletos "memento mori", como fazemos hoje com bijouterias. A diferença é que esta última só faz referência à imitação, ao superficial, ao descartável.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Paixão

Eu nunca me havia dado conta!
Duas palavras tão presentes em meu vocabulário cotidiano, com significados tão distintos uma da outra (será mesmo?), tem a mesma origem etimológica.
Do grego "pathos" que significa "padecer", "sofrer" no sentido de algo que ocorre ao sujeito independente de sua vontade, que o atinge, sem que ele provoque, mas sim sofrendo a ação de uma causa externa; é daí que se originam as palavras "paixão", "patologia" (doença)e "patológico" (doentio).
Acho que a paixão deve ser a única doença deliciosa. Será contagiosa? Será que mata?

sábado, 10 de julho de 2010

Pacientes que não tive 05: John Lennon

Um homem que fez tudo a seu modo. Viveu em intensidade. Os Beatles foram pouco. Largou tudo para ficar ao lado da mulher que amava, sob protestos inconformados da multidão. Melodia e poesia merecem atenção. Na música "God" (Deus), expressa sua descrença de maneira elegante, a tensão melódica vai crescendo enquanto enumera as coisas e entidades nas quais não crê, para encontrar alívio na conclusão, ao afirmar que só acredita em si, e em Yoko, que são reais, e que "o sonho acabou", mas teremos de continuar assim mesmo. Mesmo sem ilusões.

Poema só para Jaime Ovalle

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

(Manuel Bandeira)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Campanha de prevenção ao suicídio

A partir desta semana, a Rede Globo de Televisão começa a veicular em sua grade de programação um vídeo sobre prevenção do suicídio produzido pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
A produção informa, entre outros dados, que a cada dia 24 pessoas morrem por suicídio no Brasil. Por meio de números como este, o vídeo destaca a importância do tratamento às pessoas com doença mental e faz parte da campanha “Comportamento Suicida: Conhecer para Prevenir”.
Assim a Associação Brasileira de Psiquiatria concretiza uma das suas principais missões: atuar junto à sociedade no objetivo de esclarecer a população sobre a alta incidência dos transtornos mentais e a respeito da importância de procurar ajuda médica.
O material é uma importante ferramenta na luta contra o estigma da área psiquiátrica e está disponível no site da ABP Comunidade. Para assistir ao vídeo pela internet, acesse:

http://www.abpcomunidade.org.br/campanhas/

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Pensamento

"A ciência não torna impossível acreditar em deus. Simplesmente torna possível não acreditar em deus."

(de Steven Weinberg, físico estadunidense, prêmio Nobel de Física em 1979, membro da Royal Society of London e da U.S. National Academy of Science).

terça-feira, 6 de julho de 2010

Pacientes que não tive 04: Genghis Khan

Nascido em 1162, na Mongólia, ficou órfão de pai aos 9 anos. Ainda na infância, matou a flechadas um homem que se dispunha a casar com sua mãe. Organizou um grupo armado que só fez crescer até se transformar em um exército que não conheceu derrotas. Neutralizou o poder de parentes, matou todos os chefes (Khans) de clãs rivais. Consolidou o maior império contínuo de toda a história, da Coréia à Hungria; em extensão ou população, mais do que o dobro que qualquer outro. Os mongóis aterrorizavam os vencidos, assassinando os homens e estuprando as mulheres. A reputação de sua violência atravessou os séculos. Na Europa, séc.XIX, o nascimento de crianças com síndrome de Down era interpretado como um sinal do estupro de alguma ancestral por um guerreiro mongol, daí o termo "mongolismo". Tantos foram os descendentes destas práticas e dos incontáveis haréns dele que estudos genéticos recentes indicam que os descendentes de Gengis Khan somam nada menos do que 34,8% da população da atual mongólia, 8% dos homens asiáticos e 0,5% da população mundial. Seu último descendente direto no goveerno foi Alim Kham, emir no Uzbequistão, deposto em 1920 pela revolução soviética.
Deixando de lado os aspectos éticos e morais da questão, essa estratégia de massacre e estupro se mostrou darwinianamente imbatível, seus genes continuam imperando.
Fontes:
Zerjal, T., et al. (17 de janeiro de 2003). The Genetic Legacy of the Mongols
Derenko M.V., et al. (março de 2007). Distribution of the male lineages of Genghis Khan's descendants in northern Eurasian populations.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ciência, religião e criacionismo

Nem sempre a luz acaba com as trevas.
Muitas pessoas acreditam que o mundo foi criado há cerca de 4 mil anos, que a evolução das espécies, conforme inicialmente proposto por Darwin em 1859, não passa de uma "teoria" (fantasiosa), e que é perda de tempo discutir a respeito, pois a verdade já foi estabelecida por seus profetas, sejam eles santos, pastores ou divindades. Mais grave do que ignorância, ou seja, desconhecimento, desinformação, falta de instrução; estas posturas, a meu ver, se aproximam mais da doença mental, da patologia do pensamento, da psicopatologia.
A psiquiatria tem estudado esta questão. Para quem se interessar, ofereço o link para uma matéria a respeito publicada na Revista de Psiquiatria Clínica (Numbers RL / Rev Psiq Clín. 2009;36(6):246-51):

http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol36/n6/250.htm
(Este artigo é baseado numa conferência proferida em 11 de maio de 2006 no Howard Building do Downing College na Universidade de Cambridge, Reino Unido).

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Traição: o homem é sempre o culpado

É indiscutível que, nas últimas décadas, houve uma transformação profunda nas relações conjugais e no comportamento sexual da sociedade.No entanto, na questão da infidelidade, ainda existe um privilégio masculino. O homem é o único que se percebe e é percebido como sujeito da traição.A mulher, até mesmo quando trai, assume a posição de vítima. Entre indivíduos das classes médias do Rio de Janeiro, 60% dos homens e 47% das mulheres afirmam já terem traído seus parceiros. Apesar de estarem quase empatados, eles e elas apresentam motivos bem diferentes para trair. Homens dizem que amam e desejam as esposas, mas não resistem ao instinto, à aventura, atração, vontade, oportunidade, vocação. Mulheres dizem que traíram por insatisfação com o parceiro, autoestima baixa, vingança ao ter sido traída, por não se sentir mais desejada pelo marido ou por falta de atenção, conversa, carinho, romance, intimidade. Homens se justificam por meio de uma suposta natureza propensa à infidelidade. Mulheres dizem que seus parceiros, com suas inúmeras faltas, são os verdadeiros responsáveis por suas traições.Portanto, a culpa é sempre do homem, seja por sua natureza incontrolável que o impele a ser infiel, seja por seus defeitos que causam a infidelidade feminina.
O discurso de vítima de muitas mulheres, não se assumindo como responsáveis pelos próprios desejos, reforça a lógica da dominação masculina em nossa cultura.

Extraído da Folha de São Paulo, caderno equilíbrio, ontem (autoria de Mirian Goldenberg)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Carpe Diem

"Aproveita o dia"
"...quam minimum credula posterum!" (e confia o mínimo possível nos dias posteriores!)
Assim soa a famosa citação completa do poeta romano Horácio. Marca o fim de um poema em que ele adverte o fictício Leucônoe contra o futuro. Deve viver de forma sensata o presente, e utilizar bem o seu tempo. O lema sempre foi retomado, por exemplo, no barroco pelo poeta Martin Opitz (1597-1639), que intitulou um de seus poemas dessa forma, como no belíssimo filme "A sociedade dos poetas mortos", de 1989, onde os fãs do seriado "House" podem admirar o início da carreira do dr. James Wilson, interpretado por Robert Sean Leonard, ainda adolescente.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pacientes que não tive 03: Leon Tolstói

1875. Numa pequena aldeia na Rússia, nada acontece que altere a rotina e sacuda o marasmo do povo. Todo o divertimento consiste em observar a linha do trem que, vez ou outra passa, muito raramente deixando alguém. Um dia a aldeia se agita, sangue corre nos trilhos. Uma mulher, amante de um homem poderoso da aldeia de Iássienki, desesperada com sua vida amorosa, joga-se na frente do trem, dando fim à própria vida. Tolstói, com mórbida curiosidade, corre à vila para ver o cadáver, assiste à necropsia dele, investiga as causas que levaram uma dama a morrer de modo tão trágico. Essa é a fonte da qual irá surgir o maravilhoso romance “Ana Karênina”.
Tolstói foi um sujeito estranho. Nascido na vila citada em 1828, teve uma educação formal sofisticada. Estudou letras orientais e Direito, não se destacava como bom aluno, mas sim como farrista e namorador. Entrou para o exército, combateu na guerra da Criméia, viajou pela Europa antes de retornar a sua aldeia. Era um espírito inquieto, insatisfeito, perturbado pela busca sem fim do sentido da vida. Atormentado por questões existenciais, estudou religiões, se isolou num mosteiro. Indiferente a críticas e elogios, se afastava da aristocracia, nunca gostou da hipocrisia dos salões. Ocidentalista convicto, criticava o isolamento russo, o que lhe causou grandes problemas com o governo czarista.Em seus livros, demonstrou profundo conhecimento dos meandros da alma humana, em descrições inesquecíveis dos estados psicológicos dos protagonistas.
Mas também tinha algumas idéias estranhas: pregou a abstinência sexual entre casais na “Sonata a Kreutzer” de 1889, ao mesmo tempo que nascia seu 13º filho... Recusava os serviços dos criados, não queria ter servos. Tentou viver como um mendingo, até ser desmascarado. Foi impedido pela família a se desfazer de suas posses, como queria. Calado pelo governo, excomungado pela Igreja, criticado pela família, fugiu de tudo, morrendo em 1910, próximo da aldeia que o inspirou.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Religião, o inimigo de Freud.

"Já uma vez antes, como crianças de tenra idade, nos encontramos em semelhante estado de desamparo, em relação a nossos pais. Tínhamos razões para temê-los, contudo estávamos certos de sua proteção. Com relação à distribuição dos destinos, persiste a desagradável suspeita de que a pereplexidade e o desamparo da raça humana não podem ser remediados. Isto justifica o anseio do homem pelo pai e pelos deuses, que mantém sua tríplice missão: exorcizar os terrores da natureza, reconciliar os homens com a crueldade do destino, particularmente a demonstrada pela morte, e compensá-los pelos sofrimentos e privações que a vida lhe impôs. Assim se criou a religião, da necessidade que tem o homem de tolerar o desamparo, e construída com o material das lembranças do desamparo de sua própria infancia, na continuação de um protótipo infantil universal."
(Sigmund Freud, O Futuro de uma Ilusão)
"[É] possível atrever-se a considerar a neurose obsessiva como o correlato patológico da formação de uma religião, descrevendo a neurose como uma forma de religiosidade individual, e a religião como uma neurose obsessiva cultural."
(Sigmund Freud, Atos obsessivos e práticas religiosas)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Coisa de louco: Romênia

O país tem esse nome por já ter sido “terra de romanos”, sofreu disputas territoriais entre turcos otomanos, russos e Habsburgos. Local tenebroso, a Transilvânia é a terra de Conde Drácula, e recentemente parecia mesmo um hospício. Encontra-se no fundo do poço da Europa, com índices sociais inferiores aos da Líbia, PIB per capita abaixo ao da Namíbia. Dez por cento da população são ciganos analfabetos. Nicolae Ceausesco, governando de 1965 a 1989, achou que uma solução seria o aumento da população. Assim, proibiu todos os métodos anticoncepcionais e de controle de natalidade. Mulheres em idade fértil eram obrigadas a se submeter a exames médicos periódicos a fim de que não fosse possível esconder uma gravidez, pois o aborto também era proibido. Os médicos em cujos distritos se constatava redução da taxa de natalidade tinham cortes nos salários. Isso se deu, repare, na mesma época da revolução social, sexual, de costumes do ocidente. O povo era obrigado a usar lâmpadas de 40 watts em casa, para economizar. A obrigação de trabalho medieval da corvéia (aos domingos e feriados) ainda existia. Durante a II Guerra, os romenos foram tão sádicos no tratamento dispensado aos judeus, que até os alemães reclamaram. Em 2001 carros puxados por cavalos eram mais numerosos do que os a gasolina, existia um programa oficial do governo para substituir carros por carroças.
Ceaussescu foi executado no Natal de 1989.

Baseado no livro "Reflexões Sobre um Século Esquecido" do historiador Tony Judt, recém-lançado no Brasil

sábado, 12 de junho de 2010

Pacientes que não tive 02: Schopenhauer

Schopenhauer. Meu filósofo favorito (1788-1860). Absoluta e constantemente pessimista, já me fez pensar que a depressão não deveria ser considerada uma doença, mas sim um sinal de inteligência ou lucidez.

“Podemos classificar a vida como um episódio que perturba inutilmente a bem-aventurada tranqüilidade do nada. A existência humana deve ser alguma espécie de equívoco, pois se hoje já é ruim, a cada dia torna-se pior, até que o pior do pior aconteça. A vida é tão desolada, curta e duvidosa, que não vale grandes esforços, é mantida por ilusões. Se a existência fosse uma condição agradável, todos relutariam em entregar-se ao estado de inconsciência do sono e dele despertariam com alegria. Mas acontece justamente o contrário. As pessoas anseiam pela hora de dormir e, pela manhã, despertam contrariadas.” Permaneceu solteiro, pois “casar significa fazer todo o possível para tornar-se objeto de uma aversão recíproca”. Acreditava que o desejo nos movia em direção à melancolia o que, dizia, ficava claro na lassidão dos casais após o sexo: “Imediatamente após a cópula, ouvem-se as gargalhadas do Diabo”. Pensar no resultado de tratá-lo é interessante... O quanto ele poderia melhorar, e o quanto me deixaria pior? Com essa cara feia assim, sei não...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Chapéuzinho Vermelho

-Que orelhas enormes a Sra. Tem, Vovó...
-São para te ouvir melhor, minha netinha!
-Para que é esse nariz enorme?
-Prá te cheirar melhor, queridinha...
-E para que é essa boca enorme?
-Prá te COMER melhor, minha linda !!!

Quando Chapéuzinho sai da segurança de sua casa para a floresta, recebe um aviso de sua mãe, para que siga pelo caminho seguro, e não se desvie, pois ela conhece bem os perigos que rondam sua ingenuidade, sabe do risco representado por lobos educados, de fala mansa. Ao encontrar o lobo na floresta, este não pode devorá-la, pois há lenhadores nas redondezas. Na presença de adultos responsáveis, o lobo nada tenta, astutamente perguntando então para onde ela vai, a fim de segui-la. Desvia sua atenção para as belezas da natureza, com intuito de distraí-la e atrasá-la. Despreocupada, Chapéuzinho se atrasa e chega depois que vovó já foi devorada pelo lobo, que a aguarda.
É então que acontece o interessante duelo verbal a respeito de partes grandes e peludas do corpo do Lobo Mau. São verdadeiras preliminares, nas quais o que seduz não são os atributos físicos, mas sim as intenções ocultas dele. Intrigada pelo desejo do lobo, a criança se fascina com a intuição de que existe algo de muito interessante que anima o mundo dos adultos, algo relacionado com o perigo que as meninas inocentes correm, quando, apesar de virtuosas e obedientes, se descuidam dos conselhos da mãe, ou se desviam do caminho traçado. Agora não há adultos responsáveis por perto para protegê-la, nem mãe, nem avó, nem lenhador. Há algo de misterioso no lobo que a atrai, é por isso que ele é tão perigoso. Sua mãe já sabia disso. Na verdade não só sabia, como também o previra e queria evitá-lo, o que é inútil, pois esse encontro está fadado a algum dia,fatalmente acontecer. No final, Chapéuzinho é retirada de dentro da barriga do lobo pelo lenhador.

No conto, são descritas três gerações femininas: filha, mãe e avó. A figura do pai não é diretamente mencionada, embora presente, de forma velada em suas duas fortes naturezas opostas e contraditórias. A versão responsável, respeitosa e salvadora (o lenhador); e seu oposto, perigoso, sedutor, inaceitável, o lobo. Todo homem, dentre eles o pai, carrega um animal escondido dentro de si. A criança tenta decodificar o código de organização sexual secreto dos adultos. Quem pode casar com quem? Porque vovó e as crianças estão excluídos? Qual o Caminho seguro?
Uma crise existencial é ultrapassada. Chapéuzinho Vermelho perde a inocência infantil quando se encontra com os perigos do mundo (e de dentro de si mesma), cai na conversa do lobo e é devorada; mas renasce, ao ser retirada de barriga dele pelo lenhador: não como a criança que era, mas como a donzela que se tornou.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A imensa distância entre discurso e fato.

O mundo não é bom. É um lugar hostil, no qual temos de lutar incessantemente pela sobrevivência, que se faz às custas da morte de outros. É um lugar onde sobrevivem os mais fortes, astutos e inteligentes. Não há lugar para os fracos. Embora não seja bom, o mundo também não é mau. Simplesmente ele é indiferente. Indiferente ao sofrimento das criaturas. Não é nada amoroso. Por isso que se fala tanto em filosofias de piedade e amor ao próximo. É evidente que se esse amor existisse mesmo, não se precisaria fazer tanta demagogia ou alarde a respeito de sua existência ou valor.

“Tantos escravos foram embarcados na ilha de Moçambique que um tronco de mármore foi erguido na praia, diante do palácio. Era ali que o bispo se postava, diante dos escravos acorrentados, sacudindo as mãos para convertê-los ao Cristianismo. Assim, se morressem na viagem, antes de chegar à América, iriam para o Céu. Era uma prudente precaução, porque os navios partiam tão atulhados que trinta a quarenta por cento dos escravos morria. Seus corpos eram jogados ao mar. Mas todos, graças a Deus, teriam o privilégio de morrer como bons cristãos.”

Entre haspas, trecho extraído do romance "Os Rebeldes", de James A. Michener, do qual sou fã, autor dos melhores romances históricos que li, e que recomendo a todos.

domingo, 6 de junho de 2010

O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.
Perdoai: eles não têm culpa de ter nascido.

(Vinícius de Moraes)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Pacientes que não tive 01: Gauguin

Em 08/05/1903, o bispo das Ilhas Marquesas, pouco caridosamente, testemunhou a morte de “um artista conhecido, porém inimigo de Deus”. Era o fim de Paul Gauguin, aos 54 anos , solitário, pobre e sifilítico numa cela de prisão.
Artista tão pouco convencional em sua arte como em sua vida, aos 35 anos abandonou uma respeitável e próspera carreira na bolsa de valores, sua esposa e seus cinco filhos, trocando a segurança material na França, por uma vida cheia de contradições e episódios apaixonantes nos mares do Pacífico sul. O desejo de liberdade no plano artístico e no existencial o marginalizou da sociedade. Não se adaptava aos rígidos hábitos vitorianos, nem à sua hipocrisia. Decidiu viver como “um nativo”. Viveu na Bretanha, no Panamá e Taiti, buscando uma vida tranqüila e paradisíaca, junto a culturas primitivas, “puras”, intocadas pela sociedade “civilizada”.
Na evolução de seu estilo, percebemos um abandono gradual das paisagens por um interesse progressivo em figuras humanas, femininas, morenas, nuas. Ele pintou Annah, a Javanesca, uma “exuberante mulata de olhos incandescentes”. Em 1892, retratou sua nova mulher, Teha’amana, uma silvícola de 13 anos, nua, maravilhosamente esparramada na cama.
Empregou um colorido vibrante, irreal, para expressar, com emoção intensa, a beleza e os mistérios vivenciados. Ao saber da morte de sua distante filha, Aline, aos 20 anos, entrou num período sombrio, triste, durante o qual criou a obra-prima “De onde viemos? Que somos? Para onde vamos?” (1897), seu testamento artístico final, questionando a finalidade da existência humana. Doente, empobrecido, tentou o suicídio ingerindo arsênico. Morreu solitário, de sífilis, cumprindo pena por atos obscenos, na prisão.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Luto

O luto é uma forma de viver a morte em vida, de constatar o limite humano. No luto, a morte torna-se presente e real, partilhamos com outros o fim de um semelhante e toda a emoção que o fato desperta no humano. Mas partilhamos, também, a realidade da vida com outros, estabelecemos vínculos que possibilitam o conhecimento entre as pessoas. A psicologia tem buscado diferenciar o chamado luto normal do luto patológico, doentio. As diferenças entre eles têm sido muito, freqüentemente, motivo de discussões. Muitos autores têm dificuldade em discriminar o momento que poderíamos considerar patológica a depressão causada por uma perda.
O luto é um processo contínuo, com cada pessoa vivenciando-o de uma forma forma diferente. Dividir o luto em 5 "fases" ajuda a pessoa enlutada a entender que as seus sentimentos são normais. Algumas pessoas passam rápido por todas as fases, enquanto outras parecem ficar "presas" numa fase específica. Resumindo, as fases do luto são as seguintes:

1- CHOQUE E NEGAÇÃO- A realidade da morte ainda não foi aceite. Ele ou ela se sente atordoado e atônito - como se tudo aquilo fosse irreal. "Não pode ser.Deve haver algum engano..."
2- RAIVA e CULPA- A pessoa enlutada frequentemente se volta contra a família, amigos, elas mesmas, Deus, ou o mundo em geral. Vão aparecer também sentimentos de culpa ou medo nesse estágio.
3-BARGANHA- Nessa fase a pessoa pede por um trato ou uma recompensa de Deus,do padre. Comentários do tipo "Eu vou à Igreja todo dia se ele voltar para mim" são comuns. Algumas religiões até formalizam estas relações na forma de “promessas”
4- DEPRESSÃO e TRISTEZA- A depressão ocorre como uma reação à mudança do modo de vida ocasionada pela perda. A pessoa enlutada se sente extremamente triste, desesperançada, inútil e cansada.
5- ACEITAÇÃO- A aceitação acontece quando as mudanças que a perda trouxe para a pessoa se estabilizam em um novo estilo de vida. A intensidade e a duração do processo de luto dependem de vários fatores