domingo, 30 de janeiro de 2011

Leia a Bíblia 3: advertências e punições aos preconceitos

Sobre a punição ao preconceito racial: de como o Senhor puniu com a Lepra Miriam, irmã de Moisés, por criticá-lo devido ao seu intercurso carnal com uma mulher cusita, isto é, etíope (negra).

Números, cap.XXII;
1. Miriam e Aarão criticaram Moisés por causa da mulher etíope (negra) que ele desposara. Moisés tinha, com efeito, tomado por mulher uma etíope.
2. “Porventura é só por Moisés, diziam eles, que o Senhor fala? Não fala ele também por nós?” E o Senhor ouviu isso.
3. Ora, Moisés era um homem muito paciente, o mais paciente da terra.
9. A cólera do Senhor se acendeu contra eles.
10. O Senhor partiu, e a nuvem retirou-se de sobre a tenda. No mesmo instante, Miriam foi ferida por uma lepra branca como a neve. Aarão, olhando para ela, viu-a coberta de lepra.

Irmãos, ouvi então o que foi dito: se teu irmão é um homem justo aos olhos de Deus e quiser ter um intercurso com uma mulher cusita, melhor não se intrometer, apesar dos avanços da medicina com a hanseníase (não se pode mais usar o termo "lepra", sob risco de punição pelas atuais leis dos homens).

sábado, 29 de janeiro de 2011

O cine Belas Artes vai fechar. Culpa dos monstros.




É bom deixar bem claro que, uma das principais tarefas do meu trabalho em saúde mental é auxiliar no melhor funcionamento possível, profissional, afetivo e social das pessoas, sejam elas "normais", ou perturbadas pelos mais variados sofrimentos, fazer com que vivam a vida com a menor dose de sofrimento possível. Um passo importante neste sentido é deixar a hipocrisia de lado e abordar os temas de frente: principalmente os aspectos desagradáveis da existência. Falar macio, pegar leve, contornar/evitar temas polêmicos, mentir descaradamente, iludir, fazer promessas fantásticas, fazer apologia á pobreza, ao martírio, ao auto-flagelamento é coisa que deixo para os religiosos de plantão. Essa é a especialidade deles, o aliciamento de pessoas fragilizadas, muitas vezes perdidas e confusas, para seus obscuros objetivos pessoais.
Como já disse várias vezes, a vida é difícil, muitas vezes ruim/penosa, as pessoas não pediram para nascer, em geral não são como gostariam, e o mundo, ao contrário do que alguns extremistas alardeiam, não é simplesmente cruel, mas totalmente indiferente ao sofrimento das criaturas. Quem acreditar em Papai-Noel, que os mortos estão felizes "do outro lado" à nossa espera, que tudo tem uma justificação "secreta", que alguém veio ao mundo oferecer sua vida em sacrifício por "pecados" que nos acusa de cometer desde antes do nascimento, que seja coerente a sua crença e não chore nos velórios de seus entes queridos. Quem realmente acredita em contos de fadas, unicórnios, gnomos ou santos, que se regozije com a passagem desta "para a melhor" por seus entes amados.
A psiquiatria e a psicanálise são processos dolorosos, como o crescimento. Achar que sou um monstro por me desagradar ser abordado em minha hora de lazer por mendingos com cheiro de urina é, no mínimo infantil. Não achei necessário dizer que por mais de 20 anos atendi semanalmente essas mesmas pessoas em salas de urgência, não só sentindo seu odor com uma proximidade que poucos conhecem, mas também tocando-os com minhas mãos, tentando lhes proporcionar conforto ou alívio. Não estou aqui para dizer que fiz "boas-ações", primeiro por não ser de meu feitio, segundo por isso ser apenas o trabalho que escolhi para minha vida, e do qual muito me orgulho. Meus pacientes são o melhor testemuho de minha ética, dedicação e valores humanistas.
Minha luta é por uma vida mais realista, satisfatória, com menos ilusões, menos frustrações, expectativas mais saudáveis, objetivos sensatos e, como já disse, o menor sofrimento possível. Quem gostar de se auto-flagelar, sentir piedade de si mesmo ou acreditar em saídas mágicas, como Papai-Noel ou Papai-do-céu, definitivamente deve procurar outro médico, um padre, um vidente, um médium ou um astrólogo/tarólogo.
Freud disse que a grande certeza é a morte, mas só podemos cuidar dela em vida. Freud era ateu, fumava tanto que morreu de câncer na boca, gostava de beber e comer carne vermelha mal-passada. Vida um pouco desregrada...

Aquele outro, com a foto ali em cima, tinha uma vida mais "regrada", amava os animais, era vegetariano por convicção. Amava também as artes, tentou sem sucesso uma carreira como pintor. Não fumava, não bebia e acreditava em Deus. Será que meus críticos conhecem algo de história?

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Combatendo preconceitos

Vivemos num mundo repleto de pluraridade e opiniões divergentes e é preciso aprender a conviver com quem é diferente. É preciso tolerar opiniões discordantes e respeitar quem pensa de maneira diversa. Quem é que demonstrou ódio, raiva, e incentivou desavenças? Não ataquei nem ofendi ninguém, ao contrário do que comigo foi feito. Fui xingado e desrespeitado por pessoas que não me conhecem, muitos no anonimato, mais provávelmente por questões delas próprias, que não tem absolutamente nada a ver comigo, nem com o fato de eu não gostar de algum cinema ou reprovar cenas de sexo exibicionista em público, seja homo ou hétero. Sexo é algo da esfera íntima, e não artigo de exposição. Para quem não estiver cego de ódio destrutivo, sugiro uma visita ao site da Associação Brasileira de Psiquiatria, para que se informe a respeito do Projeto Discriminação, que visa ajudar pessoas, combater o preconceito e promover o bem-estar:

http://www.abpcomunidade.org.br/noticias/exibir/?id=67

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O direito de discordar do lindo homossexual

Nesta semana, em entrevista à revista Veja, o cantor Ricky Martin, 39 anos, 60 milhões de discos vendidos no mundo, falou sobre sua vida sexual e sua família. Disse ser homossexual, o que para mim não faz diferença alguma, pois não tenho nada a ver com sua vida. Desde os tempos dos Menudos, sempre achei sua música um lixo. Mas me sinto no direito de discordar de muita asneira que ele disse. Por exemplo, diz ele ter passado por um processo espiritual para se aceitar, e que a homossexualidade é “um dom”, que os outros é que são diferentes, não ele. Que faz parte de uma família “moderna”,e que quer mais é que seus filhos, Matteo e Valentino, quando crescerem, possam dizer a seus amigos: “Seu pai não é gay. Triste o seu caso”. Discordo totalmente desses valores que ele pretende passar a seus filhos. Muito mais, da forma como os teve. Escolheu uma mãe de aluguel por um catálogo, não se envergonha em dizer que o critério de escolha foi a beleza física dela, que as sessenta candidatas iniciais não eram bonitas o suficiente, que pagou para ela gestar, e que proibirá que os filhos venham a conhecê-la no futuro, a não ser por fotos.

Discordo de tudo isso. Acho que seria muito mais nobre de sua parte, já que não se relaciona com mulheres fisicamente, adotar duas crianças abandonadas, que não teriam outra oportunidade de ter uma família, mesmo que não fossem tão bonitas quanto ele gostaria, e acho também que poderia educá-las de uma maneira melhor. Essa é minha opinião. Da mesma forma que não gosto da região do cine Belas Artes e de seus freqüentadores. Problema meu.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A negação e a tragédia do Rio de Janeiro

Por falar em negação, interessante matéria escrita ontem na Folha pelo psicanalista Francisco Daudt, a respeito desse mecanismo de defesa, sobre seu lado positivo, útil, cotidiano.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1801201101.htm

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mecanismos de defesa: Negação

É um dos mecanismos mais primitivos e ineficazes. Como seu nome indica, trata-se simplesmente de negar o fato real, visto ou conhecido. A negação evita que o indivíduo entre em contato com aspectos dolorosos da realidade, mas costuma ser frágil como argumento, e muitas vezes, contraditório. Comum em crianças, nesta fase considerado normal. Exemplo: ao ser acusado do roubo de um objeto (sendo culpado), o menino diz; “Não está comigo! Eu achei no chão e o dono da loja me deu!”. Em adultos perturbados, a negação da realidade pode ser acompanhada de delírios e alucinações, num processo psicótico. Importante perceber que estas negações não são escolhas voluntárias, mas mecanismos psicológicos não muito conscientes pelo sujeito, diferente do que ocorre no meio “criminal”. A polícia, e os psiquiatras, conhecem muito bem o valor de não perguntar, pois uma negação do tipo “não fui eu!”, fornecida antes da pergunta cabível é altamente sugestiva de negação.

Mecanismos de defesa

Até que se demonstre o contrário, as pessoas não pediram para nascer, não escolheram seu sexo, sua aparência física, o país em que vivem, as condições sociais de sua família, a religião de seus pais ou a língua que falam. São entregues ao mundo tendo que se virar como podem e conseguem. A distribuição de facilidades e problemas não me pareceu nunca muito justa. As pessoas tem de lidar com o problema de viver, e para isso devem administrar conflitos diversos, desejos proibidos, expectativas inalcançáveis, frustrações, raivas. Devem adequar suas demandas internas à realidade externa que, ao que tudo indica, é indiferente ao resultado. Mecanismos de defesa são processos psicológicos de adaptação, que buscam reduzir a angústia gerada pelos conflitos cotidianos. Todos nós os usamos, com resultados variáveis. Crianças e pessoas muito perturbadas recorrem a mecanismos de defesa muito primitivos e ineficientes, por isso precisam de proteção. São exemplos: negação e distorção da realidade, idealização, projeção. Adolescentes usam mecanismos imaturos, como regressão, bloqueio, introjeção, comportamento passivo-agressivo, e sofrem por isso. Na vida adulta, algumas pessoas desenvolvem mecanismos mais maduros, adaptativos e gratificantes, como altruísmo, sublimação e humor. Outros adultos, um pouco mais “neuróticos”, fazem uso de defesas não tão saudáveis, como dissociação, repressão, sexualização e tentativas inúteis de controle.
O estudo dos mecanismos que as pessoas desenvolvem para resolver problemas é matéria de grande interesse teórico e muita aplicação prática, em processos de psicoterapia, que podem aprimorar o resultado obtido.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Suicidas Ilustres 13: Campanha de prevenção ao suicídio

Muitos já estranharam a série "suicidas ilustres". Em minha função, infelizmente o suicídio é algo que acontece. Uma realidade nada fácil de ser trabalhada, acredite. As festas de fim de ano, mais uma vez o comprovaram. Falar abertamente sobre o assunto, desmistificando-o é o primeiro passo para a prevenção.
Em uma iniciativa importante, a Associação Brasileira de Psiquiatria conta com médico do Mãe de Deus para a prevenção do suicídio. Leia na íntegra:
http://www.abpbrasil.org.br/medicos/clipping/exibClipping/?clipping=12981

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Pacientes que não tive 14: Kiki Hanafilia

Kiki Hanafilia, indonésia de 17 anos está sendo chicoteada pela polícia de seu país, após ser condenada, por ter cometido o crime de beijar seu namorado, Anis Saputra (24 anos). É assim que uma demonstração de afeto é tratada neste lugar do mundo, pela lei islâmica, a Sharia. Mais importante do que as físicas, marcas psicológicas permanentes ficarão deste triste episódio, que poderiam ser aliviadas por um tratamento adequado. Mas nos países islâmicos não existem psiquiatras. Esses países não participam de congressos internacionais de saúde mental. Segundo as autoridades locais, seu povo não sofre de coisas como depressão, ansiedade ou homossexualismo, que seriam males de infiés, epidêmicas nos países decadentes do ocidente, erradicadas pela piedosa lei islâmica, como se vê acima.
Ahmadinejad já se pronunciou a respeito (vide postagem do dia 01/03/2010 neste blog)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Onde estava a psicóloga?

Karen Tanhauser, psicóloga de 37 anos, voltou do almoço com o namorado, entrou no prédio onde mora e sumiu por 3 dias. Família em desespero, polícia procurando, Karen resolveu dormir no porta-malas de um carro na garagem. Não foi forçada a nada. De médico e louco, todo mundo tem um pouco, sempre me lembram. Precisava?

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Feliz 2011

Ontem, dia 03 de janeiro, foi o dia do ano no qual o planeta terra esteve a sua distância mais próxima do sol, o que, de alguma maneira deixou os psiquiatras um pouco mais ocupados. Hoje, mais sossegado, aproveito para desejar a todos um feliz ano novo, que façamos todos aquelas promessas que acabarão não se cumprindo, mas que sempre nos enchem de otimismo, que é o que no importa. Pois o destino final, inevitávelmente trágico, não é o mais importante, o que conta mesmo é ir seguindo em frente, se possível com o menor sofrimento e o maior senso de humor. O melhor a fazer é ser capaz de rir, até dos próprios infortúnios. A todos, um feliz 2011!