sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Homem: culpado!

É indiscutível que, nas últimas décadas, houve uma transformação profunda nas relações conjugais e no comportamento sexual da sociedade. No entanto, na questão da infidelidade, ainda existe um privilégio masculino. O homem é o único que se percebe e é percebido como sujeito da traição.A mulher, até mesmo quando trai, assume a posição de vítima. Entre indivíduos das classes médias do Rio de Janeiro, 60% dos homens e 47% das mulheres afirmam já terem traído seus parceiros. Apesar de estarem quase empatados, eles e elas apresentam motivos bem diferentes para trair. Homens dizem que amam e desejam as esposas, mas não resistem ao instinto, à aventura, atração, vontade, oportunidade, vocação. Mulheres dizem que traíram por insatisfação com o parceiro, autoestima baixa, vingança ao ter sido traída, por não se sentir mais desejada pelo marido ou por falta de atenção, conversa, carinho, romance, intimidade. Homens se justificam por meio de uma suposta natureza propensa à infidelidade. Mulheres dizem que seus parceiros, com suas inúmeras faltas, são os verdadeiros responsáveis por suas traições.Portanto, a culpa é sempre do homem, seja por sua natureza incontrolável que o impele a ser infiel, seja por seus defeitos que causam a infidelidade feminina.
O discurso de vítima de muitas mulheres, não se assumindo como responsáveis pelos próprios desejos, reforça a lógica da dominação masculina em nossa cultura.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Pacientes que não tive 29: Jânio Quadros (e família)




Todos na família se acusavam de ser loucos: Jânio havia internado sua filha, Tutu Quadros, que depois internou Jânio (que já havia tentado internar o seu pai). Tutu brigou com as três filhas pela herança de Eloá, sua mãe, esposa de Jânio. As netas de Eloá acusaram a mãe, Tutu, de tê-las abandonado, mesma acusação que Tutu dirigiu ao pai. Dona Eloá deserdou Tutu, que investiu contra as próprias filhas. Eloá morreu sem rever Tutu. De olho no patrimônio do pai, Tutu exigiu na justiça uma declaração da incapacidade do pai. Ninguém se entendeu com ninguém.
Sucessor de Juscelino Kubitschek, que incentivou o desenvolvimento da industria automobilística e construiu Brasília, o legado de Jânio foi a proibição do biquíni, das rinhas de galo e do lança perfume no carnaval. A única construção que fez em Brasília: um pombal. Seu legado político: a maldição de sua histérica renúncia, que culminou no golpe de 64, levando a 20 anos de regime militar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pacientes que não tive 28: (o noivo da) Duquesa de Alba


Aos 85 anos de idade, uma das mulheres mais ricas do mundo, com uma fortuna avaliada em 4,7 bilhões de dólares, integrante da nobreza espanhola, a aristocrata com mais títulos reconhecidos pelo Guiness, teve uma árdua tarefa a cumprir: enfrentar a oposição de seus filhos, contrários a seu casamento com um modesto funcionário público, 25 anos mais jovem do que ela, numa festa considerada o mais elaborado evento social da Espanha, desde o final da monarquia. Não se sabe o porquê, mas eles foram contrários ao enlace.
Ela afirmou: “Eu acredito em Deus. Sou católica praticante, portanto sou contra o aborto, contra o divórcio e contra todas essas atrocidades que proliferam num mundo sem regras e sem temor a Deus. Por isso é que estou casando pela terceira vez, eu não tinha outra saída, não serei chamada de pecadora”.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pacientes que não tive, 27: William Herrera

À espera do juízo divino, trancado dentro da Assembléia de Deus, em Havana, Cuba, junto com mais 61 fiéis há mais de um mês, o pastor William Herrera disse por telefone à reportagem da Folha: "Recebemos um mandato de Deus, que disse que viéssemos para cá por causa das coisas que estão acontecendo neste país. Muita idolatria, homossexualidade. Virá um juízo para Cuba por parte de Deus. Em toda época há os que são chamados de loucos, os que vão contra a corrente. Não nos importamos com essas mentiras. Deus nos mandou guardar comida para um tempo e aqui ficaremos”. Ele criou uma conta no Twitter (@fuentevidacuba) para explicar o chamado de Deus e as curas e milagres que, segundo ele, ocorrem durante as jornadas de oração. Qualquer um que tenha interesse em ordens vindas diretamente do criador podem obter maiores informações junto ao grupo.

Entre os confinados estão 19 menores de idades, e 4 gestantes. Eles garantem que só sairão de lá depois de receberem uma ordem divina. Ou se forem resgatados, direto para o hospício. A psiquiatria não se dá muito bem com profetas...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pensando sobre a Tortura

E já que falamos de terroristas, desenvolvamos esse animado tema, para questões afins, com a mesma e alegre tonalidade. Segundo Elio Gaspari, o que torna a tortura atraente é o fato de que ela funciona. O preso não quer falar, apanha e fala. A eficácia do método chega a surpreender até mesmo o torturador. Assemelha-se ao ato cirúrgico, extraindo da vítima algo maligno que ela não expeliria sem agressão. A mente insubmissa torna-se vítima de sua carcaça, que é, a um só tempo, repasto do sofrimento e presa do inimigo. O preso só lastima uma coisa: o maldito corpo continua agüentando! Ainda que a certa altura a mente prefira a morte à confissão, aquele corpo dolorido se mantém vivo, permitindo que o suplício continue. Todos concordam que a tortura é uma prática abominável e nada há que justifique sua prática. Será mesmo? Grande parte das pessoas desse mundo hipócrita que mente sobre si mesmo, não vai encarar o desconforto de pensar a respeito com honestidade. Essa é a diferença entre aqueles que tem a obrigação de agir, e aqueles que os criticam. Viver é ter de fazer escolhas entre coisas ruins e coisas péssimas, administrar o caos, que espreita a total degradação do fim inevitável. Tirar o corpo fora, dizer que não se tem nada a ver com isso é fácil.
Imagine-se a hipotética situação: um avião levando 300 crianças sobrevoa o oceano pacífico. Há uma bomba escondida a bordo, programada para explodir em 2 horas, tempo insuficiente para se chegar a um aeroporto. Existe a possibilidade de desarmar a bomba, ou jogá-la para fora do avião, desde que ela seja localizada. A única pessoa que sabe onde a bomba está é o terrorista que a escondeu, responsável por centenas de mortes em episódio semelhante anterior, e que está detido sob seus cuidados. Ele se recusa a falar, já vai mesmo para a cadeia... O tempo começa a correr. Responda com sinceridade: você deixaria as 300 crianças morrerem, sem tentar obter a informação mediante tortura do terrorista? Nesta situação, a tortura seria um crime, algo moralmente condenável? A turma dos direitos humanos tentaria impedir a tortura?