quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Astronauta Brasileiro

Em 2006, o governo brasileiro gastou dez milhões de dólares para que Marcos Pontes, embarcasse como passageiro numa nave espacial russa, passando uma semana em órbita da terra. Nessa oportunidade, ele levou a cabo experimentos científicos sugeridos por alunos do ensino fundamental, como plantar feijões em algodão e ver como se comportavam na ausência de gravidade. Enquanto isso, o programa espacial brasileiro acumula fracassos, como a explosão da base de lançamento de Alcântara, que matou 20 funcionários em agosto de 2003. Fernando Reinach, biólogo, Ph.D. pela Cornell University, grande divulgador de ciências no Brasil, calculou, com base em dados do CNPQ, que com o dinheiro gasto na brincadeira desse passeio espacial, poderiam ter sido formados 290 novos doutores, no exterior, num prazo de 5 anos. Ou seja, o dinheiro público que deveria ser investido em educação, foi gasto em um golpe publicitário. Sorte do astronauta. Dois meses após a viagem, ele pediu baixa de seu posto, se aposentou na reserva remunerada da FAB, com apenas 43 anos de idade. Hoje em dia, Marcos Pontes hoje ganha muito dinheiro posando ao lado de travesseiros. È o que se espera de um governo liderado por um homem que se orgulha de não ter estudado.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Branca de Neve e a Madrasta

Nasce um bebê. Aquele que se torna objeto da adoração dos pais, que nele tudo investem, está predestinado a substituí-los no futuro, ocupando seu espaço. Isso acontece de forma particularmente dolorosa para as mulheres, como ilustra a fábula de Branca de Neve, um conto antigo, cuja narrativa remonta a séculos na Europa, sendo sua versão cinematográfica dos estúdios Disney, de 1937, a mais conhecida. Seu título moderno é infeliz ao enfatizar os anões, quando o centro da atenção seria o destronamento da madrasta (ao lado) que envelhece, enlouquecida de ciúme, ante o desabrochar da beleza e juventude da filha. É um tratado sobre a tragédia feminina, os poderes, perigos e magia da beleza da mulher e da ruína que ronda o descontrole sobre as paixões, o aniquilamento do ser ante a negação do envelhecimento, da substituição, da finitude. A estória explora os poderes femininos em três gerações. A puberdade, cujo fascínio adolescente repousa inerte, passivo, desarmado, à mercê de nossa idealização, adormecido na caixa de vidro à espera do príncipe. A fase adulta da madrasta, que sabendo-se a mais bela de todas, poderosa, sedutora e desejável, não cansa de repetir a mesma pergunta ao espelho, possível olhar masculino presente na intimidade de seu quarto. Qual a mulher que se cansa de ser admirada? Todos conhecem moças que nunca param de perguntar se ainda são amadas, não adianta repetir isso mil vezes. E por fim, a bruxa, que despojada dos atrativos físicos da juventude possui outros feitiços...

Quando nasce Branca de Neve, sua mãe providencialmente morre para ser substituída pela madrasta, a quem estão todos autorizados a odiar (quem agüenta odiar a própria mãe?). Assim, a madrasta, o espelho na parede e o caçador são os pais disfarçados. Por mais poderosa que seja, a madrasta não convence o caçador a matar Branca de Neve (ele a abandona na floresta), nem consegue manter para sempre a atenção do espelho, que tudo sabe e nunca mente. Não há espaço para duas mulheres desejáveis na família, uma deverá sair. Quem são os anões? Criaturas pré-púberes (pré-edípicas), com o tamanho de crianças e barbas de velhos, ambos excluídos do jogo sexual, não representando perigo algum à inocência de Branca de Neve, companheiros de infância, advertem-na dos perigos da bruxa, sem sucesso, pois suas visitas (da Bruxa) despertam elementos sexuais reprimidos, representados pela maçã envenenada. A incapacidade de Branca de Neve em resistir à tentação a torna mais humana, seu desmaio simboliza o esmagamento ante desejos conflitantes, e seu sono letárgico, uma morte simbólica, um rito de passagem, do qual ela desperta, de indefesa, para uma nova existência, poderosa.

...e todos vivem felizes para sempre? Nada disso, a seu tempo a tragédia se abaterá sobre Branca de Neve exatamente do mesmo jeito, quando o espelho anunciar mais um destronamento. Mas desse fato as crianças são poupadas. Schopenhauer e seus seguidores, infelizmente não.

domingo, 22 de agosto de 2010

A traição E Capitu

Não importa se Capitu traiu ou não Bentinho. Não faz qualquer diferença. A traição não importa, o que importa é o sofrimento, que pode (ou não) acompanhá-la, pois na imensa maioria das vezes, o ciumento sofre sem que a traição tenha ocorrido, bem como o traído nunca desconfia de nada, assim (disso) não sofre. O que vale ser pensado é o mecanismo que leva à dúvida e ao ciúme, um sentimento cruel, no mais das vezes injustificado, que atormenta e aniquila aquele que o alimenta. É inútil Bentinho perguntar a Capitu se ela o trai. Se ela admitir, não existe “traição”, entendida como mentira. Se ela negar, continua-se no mesmo pé, sem saber, ou seja: não há como saber. Esse é o centro da questão, diante disso, que fazer? Só há uma solução: não pensar a respeito. Fácil assim? Não para Bentinho.
O ciúme tem origem natural, instintiva e complexa; envolve sentimentos de apego, posse, insegurança, medo. Por mais provas de fidelidade que o ciumento receba, nunca ficará satisfeito. Continuará a procurar “evidências” da traição, podendo “encontrá-las” em toda parte. É isso que Machado de Assis faz o tempo todo em “Dom Casmurro”. Ao transformar o leitor em parceiro dos pensamentos íntimos de Bentinho, ele nos torna cúmplices de nada mais do que uma versão dos fatos. Uma versão é uma visão parcial deles, e com toda a certeza, tendenciosa. Desde o início do livro, que a cada nova leitura fica melhor, o autor nos induz sutil e lentamente a desconfiar de Capitu.

Perguntaram-me se acho que Capitu foi “culpada”. Eu não gosto do termo “culpa”, assim como não gosto dos termos “desculpa” ou “perdão”, pois acho que tem uma forte conotação religiosa. Não sou religioso, e não é de meu feitio culpar nem perdoar ninguém. Me considero alguém que pensa, procuro entender, não julgar. Agora, se me perguntarem se acho que ela traiu ou não Bentinho, eu respondo: não tenho a mínima idéia, nem curiosidade. Mas acrescento: se alguém carrega chifres, deve ter feito algo para merecê-los.

sábado, 7 de agosto de 2010

Debate Político

Anteontem tivemos debate político na TV. Foi constrangedor. Fiquei pensando a respeito do comportamento e do discurso ideológico-partidário, lembrei de um amigo que, embora inteligente, para defender o Lula, usa de argumentos tão malucos, que parece ter perdido a lucidez. É um discurso apaixonado, irracional, de caráter quase religioso. Grandes absurdos e idiotices são ditas nestas circunstancias. Alguém poderia imaginar que o texto que se segue não foi de gozação? Pois foi publicado imediatamente após a morte de Stálin, pelo France Nouvelle (jornal do Partido Comunista Francês), e não me surpreenderia que alguém o endossasse atualmente. Lá vai:

"O coração de Stálin, o ilustre companheiro de armas, e o prestigioso sucessor de Lênin, o chefe, o amigo e o irmão dos trabalhadores de todos os países, deixou de bater. Mas o stalinismo vive, ele é imortal. O nome sublime do mestre do comunismo mundial resplandecerá com uma claridade flamejante pelos séculos e será sempre pronunciado com amor pela humanidade. A Stálin permaneceremos fiéis para todo o sempre. Os comunistas se esforçarão para merecer, por sua dedicação incansável à causa sagrada da classe operária.... o título de honra de stalinistas. Glória eterna ao grande Stálin, cujas imperecíveis obras científicas nos ajudarão...."

Para quem não acredita, tem mais. Recentes palavras de Oscar Niemeyer: "Alcança enorme sucesso na Europa um livro que reabilita Stálin, figura tão deturpada e injustamente combatida pelo mundo capitalista". Folha de São Paulo, 09/01/2009