Não importa se Capitu traiu ou não Bentinho. Não faz qualquer diferença. A traição não importa, o que importa é o sofrimento, que pode (ou não) acompanhá-la, pois na imensa maioria das vezes, o ciumento sofre sem que a traição tenha ocorrido, bem como o traído nunca desconfia de nada, assim (disso) não sofre. O que vale ser pensado é o mecanismo que leva à dúvida e ao ciúme, um sentimento cruel, no mais das vezes injustificado, que atormenta e aniquila aquele que o alimenta. É inútil Bentinho perguntar a Capitu se ela o trai. Se ela admitir, não existe “traição”, entendida como mentira. Se ela negar, continua-se no mesmo pé, sem saber, ou seja: não há como saber. Esse é o centro da questão, diante disso, que fazer? Só há uma solução: não pensar a respeito. Fácil assim? Não para Bentinho.
O ciúme tem origem natural, instintiva e complexa; envolve sentimentos de apego, posse, insegurança, medo. Por mais provas de fidelidade que o ciumento receba, nunca ficará satisfeito. Continuará a procurar “evidências” da traição, podendo “encontrá-las” em toda parte. É isso que Machado de Assis faz o tempo todo em “Dom Casmurro”. Ao transformar o leitor em parceiro dos pensamentos íntimos de Bentinho, ele nos torna cúmplices de nada mais do que uma versão dos fatos. Uma versão é uma visão parcial deles, e com toda a certeza, tendenciosa. Desde o início do livro, que a cada nova leitura fica melhor, o autor nos induz sutil e lentamente a desconfiar de Capitu.
Perguntaram-me se acho que Capitu foi “culpada”. Eu não gosto do termo “culpa”, assim como não gosto dos termos “desculpa” ou “perdão”, pois acho que tem uma forte conotação religiosa. Não sou religioso, e não é de meu feitio culpar nem perdoar ninguém. Me considero alguém que pensa, procuro entender, não julgar. Agora, se me perguntarem se acho que ela traiu ou não Bentinho, eu respondo: não tenho a mínima idéia, nem curiosidade. Mas acrescento: se alguém carrega chifres, deve ter feito algo para merecê-los.
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Dr. Acho que não entendestes o sentido da pergunta, porém gostei muito da história contada através de tú...
ResponderExcluirHelena
Concordo plenamente com a frase:se alguém carrega chifres, deve ter feito algo para merecê-los.
ResponderExcluirDr. Mauricio, sem querer ofender, mas era melhor e mais prudente mesmo que tivesse esperado por mais tempo a tua boa inspiração... te passou pela cabeça que o pedido e a pergunta da Helena referente a culpa ou não da personagem Capitu poderia ir mais além e mais tocante do que simplesmente a história de Dom Casmurro??? e vou mais além, não seria talvez uma história real, não teria Helena então sofrido a tal traição???
ResponderExcluirAcho que a ansiedade leva ao eleva o ciúme, e faz a pessoa sofrer antecipadamente.
ResponderExcluirAbraço Dr.
Fábio,
ResponderExcluirgostei da dica do livro!
um abraço
Nossa.Então quem leva chifre é porque o mereceu?
ResponderExcluirTô ferrada mesmo.Agora que to me achando um 0 a esquerda.:(
Capitu é o nome da poodle da minha amiga, e Bentinho, do poodle da minha falecida mãe. O meu vem de outro livro, é o Quincas Borba. Todos puros e inocentes, assim como os pobres protagonistas de Dom Casmurro.
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