segunda-feira, 5 de abril de 2010

O ateu no armário (provocação filosófica)

Recentemente, um paciente ilustre, por acaso ateu, chamou minha atenção para o fato de lhe ser muito difícil assumir esta condição em público. Fez uma interessante analogia com os homossexuais. Antes considerados criminosos, pecadores ou doentes; hoje são aceitos e respeitados, se não celebrados, tal o sucesso de eventos como a parada gay. Não se pode hoje, sequer expressar uma opinião a eles contrária, sob o risco de ser acusado de discriminação ou homofobia, estes sim crimes previstos, atualmente, em lei. Quando não assume sua condição em público, diz-se que o homossexual ainda está “no armário”.
Pois bem, pesquisas de opinião nos EUA revelam que o acesso à presidência pelo voto popular seria possível para muitas minorias. Poderia ter sido uma mulher, como Hillary Clinton. Ou um negro, como Barack Obama recentemente. Um homossexual, segundo essas pesquisas, seria aceito. Acredito que até um usuário de drogas, lembro que Bill Clinton, com seu tradicional jogo de cintura, afirmou ter fumado, “mas não tragado”, a maconha. Mas alguém que se declarasse ateu, nas urnas sofreria um massacre.
Ele argumenta que muitas pessoas, ao se dizerem católicas, logo em seguida acrescentam um “não praticante”, seja lá o que isso queira dizer. Este ateu que conheço se diz um “Ateu Praticante”, e lamenta dizer que não pode declarar esse fato publicamente, sob risco de ser excluído como uma aberração, um doente ou criminoso . Perderia seu emprego, sua respeitabilidade. Para manter sua posição social, freqüenta a igreja, local no qual descobriu muitas pessoas em situação semelhante. Sente-se obrigado a mentir, assumir uma identidade falsa, fingindo que acredita em coisas que não fazem sentido, para ele.
O maior problema que os homossexuais sempre encontraram, não foi com relação ao que acreditavam, gostavam ou queriam. O maior problema sempre se deu no choque com a opinião dos outros, com as convenções sociais. O mesmo acontece com os ateus, diz este paciente. Para ele, é melhor não “sair do armário”.

Provocação filosófica:
“Os homens não ousam confessar, nem mesmo a seus corações, dúvidas que tem a respeito desse assunto. Eles valorizam a fé implícita; e disfarçam para si mesmos sua real descrença, por meio das afirmações mais convictas e do fanatismo mais positivo.”
David Hume, sobre a religião, no "Tratado da Natureza Humana - Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais". Hume foi um filósofo escocês, cético, fundador do empirismo, pioneiro na aplicação do método experimental sobre os fenômenos mentais.

9 comentários:

  1. É lamentável o preconceito com qualquer um que seja, o fato de acreditar ou não em Deus não faz ninguém melhor ou pior, bom caráter não se mede quanto a opção sexual, religiosa, cor, raça e etc. Eu particularmente conheço ateus que são bem mais generosos, humildes, bondosos, caridosos e com muitas outras qualidades admiráveis que muitos religiosos convictos...

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  2. Uma pessoa ilustre muitas vezes tem que mostrar à sociedade um modêlo politicamente correto, deixando em segundo plano o seu "eu real". Ser ateu não é crime e o melhor dos mundos seria que todas as pessoas assumissem realmente suas posições, convicções, e que mandassem "as favas" rótulos e todos os tipos de preconceitos. Meu amigo: Saia do armário e seja feliz! A vida é curta demais para viver do modo que "os outros" acham correto.

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  3. Te digo Dr. que as vezes respeito mais o ateu do que aquele que professa a fé sem saber o que é e sem reflexão, por isso gosto de uma frase fantastica do Galileu "“Não me sinto forçado a acreditar que o mesmo Deus que nos agraciou com senso razão e intelecto Este pretendeu que renunciássemos". Hoje em dia a fé é burra, ignorante e sem perguntas, não consigo ler por exemplo a Bilbia sem entender o pensamento helenistico, penso que um cristão para entender perfeitamente a fé que ele segue pelo menos teria que endender a "Paidéia Grega", mas como teologo e crítico penso que devemos fazer algumas perguntas as grandes instituições religiosas. Hoje não podemos ser quem queremos ser dentro temos que ter algumas capas para não mostrar as nossas doenças,,, é complicado.

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  4. Infelizmente Dr. o preconceito na sociedade é uma peste devastadora além de todos os comentários, tenho que que acrescentar um que me machuca muito.
    Quando se vai ao médico, para que ele se preocupe com o diagnóstico sempre ocultamos no primeiro contato de que fazemos tratamento Psiquiátrico, já tive esta amarga experiência e sempre é dito a mesma coisa(isto é psicológico ou você já falou com seu psiquiatra???), parece que toda a nossa saúde está atrelada ao psiquiatra, eu acho um preconceito silencioso para discriminar as pessoas, não se pode ter dores de estomago, dores de cabeça, dores pelo corpo e assim por diante.
    Precisamos por um basta a qualquer tipo de preconceito, chega estamos no século XXI, é tempo de renovação para o inferno o resto.

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  5. Pois eu sempre faço questão de falar que vou ao psiquiatra.....tbm já ouvi algumas piadinhas do tipo "vc toma gardenal", "nossa vc passa em médico de louco"? O bom é que sempre tenho a resposta na ponta da língua para esses tipos de perguntas.....sempre deixo o piadista com a cara no chão!

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  6. Ateus: sempre que responderem a uma pesquisa que pergunte sobre religião, respondam: católico não praticante. Isso contribuirá para que os feriadões continuem! Não custa nada, poxa!

    Minha definição católico não praticante: O cara que vive sem sequer pensar que existe um deus, santos ou qualquer ser "superior". Quando a água bate nas partes, ele corre a subir a escadaria de Aparecida de joelhos pedindo ajuda.

    Bah.

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  7. Magali Manzano Ferreira07 abril, 2010

    É um barato , pois não me envergonho nem um puco de dizer ou me mostrar paciente, pois acredito plenamente que todas as doenças estão sim ligadas a parte psicológica, independente de qualquer crença ou religião. Para mim o que realmente existe é o que está dentro de mim. O meu Deus vivo dentro de mim isto é "Sê tu teu próprio escudo". Acabei de ler "A Cabana" ótimo. Amo vc. Bjs Magali

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  8. Magali Manzano Ferreira07 abril, 2010

    Acabei de colocar um comentário e não saiu o que houve?

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  9. Já perdi uma vaga de emprego por me declarar atéia, sofri preconceito da minha família pela minha forma de pensar, já escutei muitos comentários das pessoas do tipo "Você é atéia, àtoa", "Você é do diabo, é contra deus", "Ateus são maus, assassinos, pedófilos, gays, etc". Mudei de cidade, e decidi começar a me "esconder" e simplesmente dizer a mentira de que eu "acreditava em deus, mas não tinha religião". Arrumei um bom emprego, e meus colegas de trabalho me adoram - a maioria deles é evangélico. Um dia desses perguntei a um deles o que achava dos ateus (pois estava xingando os gays e muçulmanos de pedófilos, e dizendo que tiraria seu filho da escola e depois reclamaria na diretoria se uma professora gay/professor muçulmano desse aula pra ele). Resultado: ateus eram pra ele pior que gays ou criminosos. Um outro evangélico chegou, pra reforçar o embate. Ouvi a opinião deles me xingando "por tabela" - já que não sabiam que eu era atéia - de criminosa, assassina, pessoa de má indole, associada com o diabo, culpada por muitos maus da humanidade, que busca sempre "afastar as pessoas de deus". Logo depois, já que disse que não tinha religião formada porque disse que as igrejas tinham "me decepcionado", me convidaram para que visitasse a igreja deles pra "ver a nossa forma de louvar a deus e ver que nem todas as religiões são ruins", dizendo que eu iria adorar.
    Não me considero nada disso do que eles falaram. Mas é a opinião da maioria da sociedade no Brasil. Como vou "sair do armário"? Pra quê? Pra ficar desempregada ou arrumar empregos ruins? Pra ser motivo de aversão e preconceito das pessoas que me consideram "do mal"?

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