Reflexões sobre os Casais Felizes
O amor é frágil, sobrevive muito mal à realidade. A
felicidade é uma foto sobre uma mesa, em um mundo que adora mentir sobre si mesmo. Olhando a foto do casal feliz acima,
percebo como é banal nossa revolta contra a evidente ausência de sentido da
vida. Todos nesse momento atiram pedras em Elize Matsunaga, como a reforçar
como são diferentes dela. Existe um pacote de mentiras básicas propagadas pelas
pessoas que querem ser consideradas felizes por seus próximos. Mais uma forma
de intoxicação nas próprias mentiras, desses hipócritas do bem. Quase tudo é
farsa na pretensa vida superbem resolvida de gente superlegal, alto-astral, que
não trai o cônjuge, que ama as plantas, que protege o planeta das sacolinhas plásticas.
Aqueles que trazem no rosto o sorriso idiota da capa dos livros de auto-ajuda,
essa praga que ensina as pessoas a serem mais burras do que já são, exalam um fedor que sinto de longe.
Não temos como escapar da maldição da infelicidade, pois, da
mesma forma que a dor, ela está programada em nossos genes. Os homens traem
muito suas mulheres, isso é uma verdade desagradável, que os escravos da mania
de felicidade não gostam de admitir. Existem prostíbulos de luxo em São Paulo,
repletos de executivos, cujas esposas estão na academia, ambos traindo um ao
outro. Claro que também existem aqueles que são fiéis às esposas, mesmo que
isso implique em sua própria infelicidade. Vivem num faz de conta supremo, onde
a mentira bonita é preferível ante a nauseabunda condição humana. Pois os seres
humanos vivem uma realidade terrível, com medo constante do fracasso, da
doença, da mediocridade. Somos vítimas de nossas incontroláveis paixões, de
nossa finitude e efemeridade. Seres esquecidos e abandonados à própria sorte,
somos como barcos à deriva, navegando sem rumo por um oceano desconhecido, de
instintos e impulsos, que fatalmente terminará no envelhecimento, no adoecimento
e na morte. Sem opções. Viva tranquilo com isso.
Um limite muito tênue e artificial nos separa desse casal
infeliz. Por puro acaso essa mulher foi presa, enquanto outra tão ou mais
vagabunda que ela, com um marido tão ou mais imbecil que ele, continuam
aprontando por aí. Há mais assassinos soltos do que presos, nesse mundo sem
justiça. Esse pobre japonês não tinha capacidade para conquistar e seduzir
mulheres com seu charme (o coitado era muito feio), mas como muitos japoneses
que eu conheço, se achava irresistível. Suas gorjetas de R$ 27 mil deviam ser
mesmo irresistíveis para meninas pobres e gostosinhas. Me dá é pena da putinha
que teve o azar de ver morrer a galinha dos ovos de ouro. Não podia acabar bem.
Nunca vai acabar bem. Esteja preparado, quando sua vez chegar, e não for mais
possível fugir da miséria da existência, aí você entenderá melhor, o que
significa ser o habitante de um mundo sem sentido.
Tristeza não tem fim, Felicidade sim. (Vinícius de Moraes)