sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O Silêncio de Cordélia



Goneril e Regane proclamam seu amor pelo rei, relatam sacrifícios que por ele fizeram, exibindo sua dedicação, pleiteando maior atenção paterna. Frente ao pedido do pai por provas de seu afeto,e diante de suas irmãs, Cordélia, a terceira filha do Rei Lear, pensa consigo mesma: “Cordélia, o que farás? Ama e te cala... por que seu amor é mais rico que sua língua”.A honrada Cordélia recusa a envolver-se na discussão hipócrita, com vistas ao lucro ante as riquezas do pai, sendo então excluída por ele de toda e qualquer parte de sua herança. O rei diz: “Nada virá de nada” (William Shakespeare,Rei Lear, ato1, cena1).
O erro trágico de Lear, que levará à cegueira, à loucura e, por final, à morte, está em não reconhecer que o silêncio pode incorporar em si os mais profundos e importantes significados. Tive o prazer e a honra de assistir ao inigualável Raul Cortez no papel de Rei Lear. E todo dia me deparo com situações que refletem essa mesma realidade. Aquilo que não é dito pelos pacientes, ou esquecido, ou desviado, muitas vezes tem mais importância do que aquilo que é repetido, às vezes até a exaustão. Da mesma forma como na vida nos deparamos com pessoas que dizem fazer e seus opostos, aqueles que fazem em silêncio. As palavras nos enganam mais do que os fatos, e o silêncio pode ser muito valioso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário