quinta-feira, 29 de março de 2012

Como a Psicanálise funciona



Zilda era conhecida na família como uma mulher maravilhosa. Boa mãe, boa esposa, boa filha, boa cunhada. Com um profundo sentimento de família, ajudava a todos os parentes, sempre prestativa, não media sacrifícios pelo bem do próximo. Dona de casa exemplar, exímia cozinheira. Trabalhava também como voluntária na Igreja, ajudando os pobres. Patrocinava uma ONG que enviava alimentos para crianças africanas carentes. Reciclava o lixo. Edésio, seu orgulhoso marido, dizia com justiça, que Zilda era uma santa. Todos que a conheciam concordavam.
Até que num belo dia, Zilda leu um livro de auto-ajuda de uma psicóloga famosa, que estava na moda, aparecia em todos os programas da TV. Ficou impressionadíssima. Pensativa, releu não sei quantas vezes. No princípio, retraiu-se, ficou meio quieta, calada. Isolava-se de uma maneira inédita. De repente, inesperado, o pesadelo começa. Vai até Edésio e diz: -“Minha vida está toda errada!”. O marido, de bermuda estampada e chinelos, tomou um susto: -“Que brincadeira é essa?”. E ela: -“Brincadeira nada. Nunca falei tão sério na minha vida.”. O pobre homem, espantado, não conseguia entender: -“Deixa eu te ver, olha para mim...”. Examinou a face da esposa como se a visse pela primeira vez. Perguntou: -“Você está querendo dizer que é infeliz?”. Encarou-o, inflexível: -“Muito infeliz”.   
A vida, de repente mudou. A casa não era mais a mesma. Zilda agora passava os dias choramingando, gemendo pelos cantos... –“Não sirvo para nada. A vida não presta, melhor morrer...”. O pobre marido não entendia patavina, nunca imaginara passar por aquilo. Perguntou: -“O que você quer que eu faça?”. Ela: -“Já estou cheia! Sai de perto de mim! Me deixa em paz!”. O impasse se instalou na família. Lembrava do livro da psicóloga famosa, onde lera que a mulher tem que ter vida própria. Que a mãe e a esposa vivem para os outros. Começou a dizer para o marido: -“Eu não vivo, quero ter vida própria!”. Daí para a falta de apetite foi um passo. Não via mais gosto em nada, cada vez mais amarga. Em desespero, Edésio contou a tragédia para um amigo que sugeriu: -“Leve-a ao psicanalista. É o jeito.”
Arranjaram um psicanalista. Na primeira sessão, Zilda deitou-se no divã, e o analista sentou-se de costas. Comandou: -“Pode falar”. E ela: -“Falar o quê?”. Ele: -“Não importa o quê. Fale.” Ela não abria a boca. O médico disse: -“Pode começar.” Ele estava com o relógio na mão, como a cronometrar. Após um tempo, levantou-se: -“Volte em dois dias, para continuarmos.” Ela: -“Mas eu não disse nada...” Ele esclarece: -“Sua hora terminou.” Durante duas semanas foi igual, a mesma cena, ela deitada, ele de costas, os dois em silencio. Então, ela achou que seu silencio estava custando muito caro e resolveu falar. Começou assim: -“Minha vida é uma novela...”, e não parou mais de falar. Falou por três anos seguidos, duas sessões por semana, falou sem parar, e sem ouvir qualquer resposta, opinião, ou parecer do médico. Falou que os filhos eram uma peste, que o marido era um fracassado, a sogra era uma bruxa, a família um bando de sanguessugas, os amigos, uns interesseiros. Reclamou da vida e das pessoas. Chorou várias vezes, ao contar seus infortúnios, como era incompreendida e injustiçada. O psicanalista, sempre de costas, em silencio perpétuo. Um dia, ela continuava sua interminável ladainha, quando ouve um som ou, para ser mais exato, um ronco. E pior: o ronco terminava num assovio. Levantou-se do divã, e constatou que o médico dormia. Ela maldizendo a vida, falando mal dos filhos, até do caçulinha... explicando detalhadamente todas as suas mazelas, suas tristezas, seus sofrimentos mais atrozes... e o analista dormindo. O mistério se revelara: o homem ficava de costas para dormir!
Furiosa, bate no ombro do médico. Diz: -“Doutor, doutor!”. Ele dá um pulo da cadeira: -“Quem é você?”. Pergunta: -“Não me conhece mais?”. Ele, atrás da mesa: -“O que você está fazendo aqui?”. Ela responde, surpresa: -“Sou sua cliente...” Os dois ficam se olhando, e ele começa a se lembrar: -“Minha cliente?” Quando enfim a reconhece, lhe dá uma bronca: -“Nunca mais faça isso. Não me acorde de repente. Sofro do coração. Posso morrer.” Zilda fica só olhando, mas quando ele diz: -“Pode ir”, ela não se aguenta: -“Eu aqui falando sozinha, bancando a palhaça enquanto você dorme e ronca? Meu marido é muito homem para lhe arrebentar a cara!”
O pior, ou o melhor, foi em casa, quando o marido chegou, lançou-se nos seus braços, quase o derrubando, ao mesmo tempo que soluçava: -“Você me perdoa, perdoa?”. Abraçou-se ao marido, escorregou pelo seu corpo. No seu arrependimento, beijava seus sapatos. Emocionados, os dois começaram a chorar. Foi lindo. Na hora do jantar, tomando sopa, ele quis saber: -“Meu coração, tiveste alta?”. Ela mente: -“O analista disse que já estou boa, não preciso mais”. No dia seguinte, Edésio dizia no trabalho: -“Sabe que a psicanálise resolve? Salvou meu casamento”. Piscava o olho: -“Dinheiro bem empregado”
(OBS- Esse texto é um plágio, em homenagem ao mestre Nelson Rodrigues, autor da idéia)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Insônia

Maldita insônia
 

Eu amaldiçoo a insônia, a ela e a toda a famigerada constelação de demônios que a acompanham. Sou capaz de ouvir as risadas de Deus, nesse momento de minha agonia, em que meus fantasmas me visitam. E se comprazem de minha frágil condição humana, de minhas imperfeições, do mal que habita em mim. Maldita seja a noite em claro e seus habitantes, que vagam feito zumbis, sem pressa e s...em rumo, como os ponteiros do relógio incansável. Maldito o calor com seus mosquitos. Maldita a manhã do penoso dia que se anuncia, durante o qual, terei de, e manterei a vigília e a atenção em agonia perpétuas, na lenta espera por uma nova noite, uma nova insônia, uma nova agonia. É o castigo escolhido para mim por Zeus, diante da audácia de desafiá-lo com meu pensamento. Só não amaldiçoo a Chico Buarque de Holanda e sua “As Vitrines”, possível causa do agravamento da insônia de hoje. Obrigado, Chico, por traduzir em tão lindas palavras uma agonia tão presente e visceral. Chico Buarque é mais competente e piedoso que Deus. Boa Noite.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Será verdade que o homem esteve na Lua?


Um texto forte. Uma estória real, que não é para qualquer um: de como um famoso cosmólogo Russo conseguiu cálculos reveladores e extraordinários.

Os mistérios do universo desconhecem limites. A humanidade levou séculos para completar o mapa do mundo e até hoje persiste a discussão do local exato do jardim do Éden, de onde foram expulsos Adão e Eva. Dizem que o homem chegou até a Lua, mas muitos duvidam da veracidade desse fato. Alguns argumentam que tudo não passou de uma montagem com truques cinematográficos, para impressionar os Russos no auge da Guerra Fria. Certa vez, ouvi um argumento muito forte na defesa dessa posição. Como teria o homem atravessado o céu em suas espaçonaves, sem deparar com Anjos e Santos, com o paraíso celeste, sem fazer sequer um contato visual com Deus?

George Gamow, nascido em Odessa, em 1904, desde criança demonstrou interesse por ciências. Ficou fascinado por um microscópio que ganhou do pai, e que usou para estudar o processo da transubstanciação. Depois de fazer a primeira comunhão na Igreja Ortodoxa Russa Local, correu para casa com fragmentos do pão e gotas do vinho, colocou-os no microscópio e comparou com fragmentos de pão e vinho comuns. Não encontrou evidências que a estrutura do pão e do vinho tivessem se transformado no corpo ou sangue de Cristo. Mais tarde ele afirmaria: “nesse momento, me tornei um cientista”. A partir daí, tornou-se um físico ambicioso, conseguiu fugir para os EUA, ingressando na Universidade George Washington, onde passou a estudar os mistérios da criação, a formação de núcleos atômicos e sua relação com a origem do Universo, na ainda nascente teoria do BigBang.

Em seus estudos cósmicos, conseguiu dados inquestionáveis da distância da morada de Deus. Esse resultado se baseou no fato de que em 1904, quando estourou a guerra russo-japonesa, as Igrejas de toda Rússia se mobilizaram em preces maciças pedindo a destruição do Japão. Todos nós sabemos que, embora ortodoxos, os Russos dos tempos do Czar eram Cristãos devotos, rezavam para o Deus verdadeiro, enquanto os japoneses, ateus e xintoístas, acreditavam na divindade de seu imperador. Uma batalha desigual. É bem verdade que depois de 1917, a religião na Rússia foi combatida pelos comunistas ateus, mas as preces já haviam sido feitas e devidamente encaminhadas. O tempo haveria de castigar os comunistas no futuro. Mas o fato é que os japoneses venceram a guerra, desmoralizando os Russos. A destruição do Japão só aconteceria em 1923, ano em que foi castigado pelo terremoto de Kano. Profundo conhecedor dos mistérios da física, Gamow, compreendeu então que o lapso de tempo entre as preces fervorosas e a resposta irada de Deus contra os japoneses, fora limitado pela velocidade da luz, que não pode ser ultrapassada por nada no Universo. A partir daí, foi só fazer as contas e ele chegou ao resultado de 9,5 anos-luz de distância da Terra. Isso derruba o argumento da discussão inicial, fazendo com que seja totalmente possível de que o homem tenha chegado à Lua, que fica muuuuuito mais próxima, a apenas 400.000 km , ou 1,3 segundos-luz da Terra, cerca de 5 bilhões de vezes mais próxima de nós do que a morada de Deus.