sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Dona Flor e seus dois maridos



Vadinho, o primeiro marido de Flor, lhe apresentou as delícias e dores do amor. Encantador para as mulheres, quase irresistível. Era charmoso, sensual, atrevido, sedutor e inconsequente. Mas também mulherengo e irresponsável. Com ele tudo era intenso. Bebia, jogava, tinha amantes.Não trabalhava, vivia na farra. Todos adoravam sua companhia. Não ligava para o futuro, só queria viver o aqui e agora.
Teodoro, o 2º marido de Flor, era o oposto. Honrado farmacêutico, homem trabalhador, culto e educado. Oferecia todas as seguranças que uma mulher pode querer, respeitabilidade social e fidelidade acima de qualquer suspeita. Mas não tinha graça nem encantava ninguém. Não perturbava os sonos de Flor, não despertava seus desejos. Era um chato.
Freud, em sua teoria estrutural da mente, descreveu o que chamou de Id, um reservatório inconsciente de energia e de pulsões, sempre ativas, regido pelo princípio do prazer, exigindo satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta a possibilidade de conseqüências indesejáveis. Jorge Amado o chamou de Vadinho.Freud chamou de superego o censor, um juiz rigoroso, vigia cruel e incansável, modelo de conduta, contendo os ideais derivados de valores familiares e sociais. Fonte de sentimentos de culpa e medo de punição. Corresponde, no romance a Teodoro.
Dona Flor sofria para conciliar os opostos. Protegia Vadinho, a quem desejava; de Teodoro, a quem respeitava. Precisava do calor de um e da segurança do outro. Ela corresponde ao Ego, funciona do em nível mais consciente, regido pelo princípio da realidade, procurando se equilibrar entre os outros dois, permitindo a realização parcial de desejos do id (Vadinho), mas sempre sob a rígida vigilância dos limites impostos pelo superego (Teodoro), num conflito permanente entre forças opostas, tentando conciliar o conflito. Ela personifica o drama constante de todos nós: o equilíbrio entre a realização dos desejos, conseguindo o máximo de prazer, com o mínimo de prejuízos.

Um comentário:

  1. Freud....meu ídolo! Pena eu não ter vivido em sua época para poder ter sido sua paciente!!!! Ele com certeza me entenderia!!!!

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