sábado, 14 de dezembro de 2013

Casais Felizes


O amor é frágil, sobrevive muito mal à realidade. A felicidade é uma foto sobre uma mesa, em um mundo que adora mentir sobre si mesmo. Olhando a foto do casal feliz acima, percebo como é banal nossa revolta contra a evidente ausência de sentido da vida. Todos nesse momento atiram pedras em Elize Matsunaga, como a reforçar como são diferentes dela. Existe um pacote de mentiras básicas propagadas pelas pessoas que querem ser consideradas felizes por seus próximos. Mais uma forma de intoxicação nas próprias mentiras, desses hipócritas do bem. Quase tudo é farsa na pretensa vida superbem resolvida de gente superlegal, alto-astral, que não trai o cônjuge, que ama as plantas, que protege o planeta das sacolinhas plásticas. Aqueles que trazem no rosto o sorriso idiota da capa dos livros de auto-ajuda, essa praga que ensina as pessoas a serem mais burras do que já são, exalam um fedor que sinto de longe.
Não temos como escapar da maldição da infelicidade, pois, da mesma forma que a dor, ela está programada em nossos genes. Os homens traem muito suas mulheres, isso é uma verdade desagradável, que os escravos da mania de felicidade não gostam de admitir. Existem prostíbulos de luxo em São Paulo, repletos de executivos, cujas esposas estão na academia, ambos traindo um ao outro. Claro que também existem aqueles que são fiéis às esposas, mesmo que isso implique em sua própria infelicidade. Vivem num faz de conta supremo, onde a mentira bonita é preferível ante a nauseabunda condição humana. Pois os seres humanos vivem uma realidade terrível, com medo constante do fracasso, da doença, da mediocridade. Somos vítimas de nossas incontroláveis paixões, de nossa finitude e efemeridade. Seres esquecidos e abandonados à própria sorte, somos como barcos à deriva, navegando sem rumo por um oceano desconhecido, de instintos e impulsos, que fatalmente terminará no envelhecimento, no adoecimento e na morte. Sem opções. Viva tranquilo com isso.
Um limite muito tênue e artificial nos separa desse casal infeliz. Por puro acaso essa mulher foi presa, enquanto outra tão ou mais vagabunda que ela, com um marido tão ou mais imbecil que ele, continuam aprontando por aí. Há mais assassinos soltos do que presos, nesse mundo sem justiça. Esse pobre japonês não tinha capacidade para conquistar e seduzir mulheres com seu charme (o coitado era muito feio), mas como muitos japoneses que eu conheço, se achava irresistível. Suas gorjetas de R$ 27 mil deviam ser mesmo irresistíveis para meninas pobres e gostosinhas. Me dá é pena da ordinária que teve o azar de ver morrer a galinha dos ovos de ouro. Não podia acabar bem. Nunca vai acabar bem. Esteja preparado, quando sua vez chegar, e não for mais possível fugir da miséria da existência, aí você entenderá melhor, o que significa ser o habitante de um mundo sem sentido.

4 comentários:

  1. Nesta o Dr. Maurício esta 100% Schopenhauer, quase chegando a E. Cioran.
    A questão que fica sem resposta é o porquê de termos desenvolvido um cérebro poderoso ao ponto de refletir sobre a falta de sentido do existir?
    Se tivéssemos inteligência similar aos golfinhos seríamos felizes. Algum nível de auto consciência, vida social sem hipocrisia, pega onda todo dia, esta sempre em forma, não reconhece a morte, e pratica sexo variada e sem culpa. Muito melhor que a vida humana!

    Zito.

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  2. volte a postar, este blog é muito bom!

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  3. Queremos novos posts ,Dr.Mauricio!!

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    1. Antiga Paciente19 setembro, 2014

      Que alívio ! Tem outras pessoas por aqui também lendo os textos antigos. Pensei que eu era a única, já estava me sentindo um fantasma vagando sem rumo pelo blog.

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