Conhecer a cracolândia e seus moradores é fazer uma pequena visita ao inferno, ou ter a sensação de entrar num filme de horror “B”, daqueles em que o mundo está tomado por zumbis, entregue a mortos-vivos. Como resgatar um indivíduo que escolheu voluntáriamente o caminho da droga? Como fazer com que um sujeito deixe de lado a única coisa pela qual tem interesse e desejo na vida, pela qual abandonou família, trabalho e futuro?
Os defensores do programa de “redução de danos”, pessoal de mente aberta, diante de sua reconhecida impotência em impedir o uso da droga, propõe medidas que minimizem seus danos. Foram eles os responsáveis pela distribuição, com dinheiro público, de grandes quantidades de seringas em postos de saúde para que os dependentes pudessem fazer um uso “mais limpo” de suas drogas injetáveis prediletas. Enquanto isso, idosos diabéticos, que também necessitavam das mesmas seringas, não eram atendidos.
A estranha proposta dos “consultórios de rua”, consiste numa busca ativa de pacientes em potencial. Tem sido feita por agentes de saúde, na sua maior parte estudantes universitários contratados por ONGS terceirizadas. Em geral, pessoas em busca de trabalho temporário, sem vocação, preparo ou experiência; vestindo jalecos bem-passados, carregando pranchetinhas na mão, vendendo a ilusão de que estão criando vínculos para o resgate daqueles infelizes. Nesta abordagem invertida, eles vão atrás de pessoas que não querem se tratar.
A polícia tenta reprimir, mas é criticada por defensores dos direitos humanos; quando atua, é acusada de favorecer ações meramente “sanitárias”. Algumas autoridades afirmaram que causando dor e sofrimento, estimulam a busca por tratamento. A medicina quer tratar: para ela os drogados seriam doentes, vítimas passivas. Alguns propõe internar pessoas contra sua vontade em leitos de hospitais que não existem, com tratamentos comprovadamente ineficazes. Religiosos de várias correntes se misturam aos nóias, oferecendo-lhes o paraíso e a salvação; organizaram até uma “cristolândia” dentro da cracolândia. Os políticos, com sua fala fácil e segurança dos gestos de mão, garantem que amanhã estará tudo resolvido, graças à heroica intervenção de seu partido.
Para completar esse samba-do-criolo-doido, aconteceu ontem na cracolândia um churrascão, que reuniu ativistas “diferenciados”, nóias e moradores de rua, protestando contra “tudo isso que está aí”. E você? Tem alguma sugestão?
O panorama que vc colocou é bem desanimador, pois parece que há uma ineficiência geral para se tratar desse problema.
ResponderExcluirAcredito que isso só será resolvido com um programa de reabilitação abrangente, a longo prazo e multidisciplinar, intersecretarial, etc
Por mais radical que possa parecer acredito na internação involuntária, pois não acredito que essas pessoas tenham alguma consciencia para poder escolher algo. (sgc)
Caro sgc,
ResponderExcluirRealmente meu panorama é desanimador, mas não é mentiroso nem hipócrita, como grande parte das sugestões maravilhosas que você vai ouvir de pessoas interessadas em se promover às custas da desgraça alheia.
Eu, como vc, acredito na internação involuntária, que tenho aplicado nos últimos 20 anos, como uma medida extrema, para evitar a morte, mas não para resolver o problema, que é muito mais grave do que as pessoas imaginam...
Eu sou totalmente contra a esse programa, por só querem deixar a cracolândia aparentemente habitável e limpa, mas sabemos que não existe lugar para toda essa gente se tratar com dignidade, mesmo se isso fosse a vontade dela, e policia devia pegar os traficantes, pois eles que de certa maneira envenena as pessoas e as matam, um usuário de crack não consegue viver mais que 7 anos, já os traficantes lucram com isso..Esse é o pais bem governado que vai sediar uma copa do mundo? E esqueceremos que a saúde,moradia,etc é um caos..
ResponderExcluirAlcântara..
pelos ultimos acontecimentos acredito que tudo isso tenha acontecido para "limpar" a região e esse maldito prefeito derrube os imóveis e lucre com isso....aliás aquele incêndio na favela do centro tb é muito estranho......
ResponderExcluirduro não acreditar mais nas ações públicas...e olha que sou funcionária pública....talvez seja até por isso....vemos os absurdos acontecerem sem nenhum interesse real pelos cidadãos. sgc
apenas complementando
ResponderExcluirhttp://vimeo.com/32848727
Oi Maurício, muito bom o texto. Concordo contigo, agora é patologia social, uma vez foi escolha individual. Entre o prazer indescritível de uma tragada num cachimbo crack e a muralha gigante e fria que é preciso transpor todos os dias, quando decidimos viver uma vidinha 'normal', alguns escolhem a baforada. O difícil ainda é, que apesar de todas as contingências conhecidas, trata-se de uma escolha. E nós, só nos incomodamos por que eles estragam mais a paisagem, ameaçam a nossa ilusória segurança e ainda por cima nos põe em xeque, lembrei do 'sabes com quem estás falando?'
ResponderExcluirO texto expõe o problema com muita precisão. Qual a solução dentro das condições social e econômica que temos no país ?
ResponderExcluirCreio que teremos que aprender a conviver com esta questão, ela veio para ficar. Proporia uma SOLUÇÃO, mas muitos, a princípio, a julgariam semelhante a solução final dos nazistas. Porém o proposto seria a internação voluntária a maiores de idade.
Por todo o exposto acima, temos que 99% dos que entram nessa não retornam jamais à dura rotina das pessoas comuns. Sugiro a criação de campos de isolamento com o fornecimento da droga necessária a cada um, alimento e condições sanitárias mínimas. Os dependentes viveriam felizes para sempre e nós teríamos o risco de sermos mortos em um semáforo, por 10 reais, diminuídos.
Haverá um político com coragem de indicar esta solução? ou será melhor irmos empurrando com a barriga e aguardar o problema se agravar dia a dia?
Zito Pizarro
Grande, Zito!
ResponderExcluirEssa solução dos campos de "isolamento", não havia me ocorrido, até agora. Confesso que é uma questão que merece ser pensada sériamente, o que é muito difícil num mundo no qual as pessoas não tem coragem de ser tão sinceras.
Abç
Sei que não há condições de propor algo tão inusitado à sociedade, além de ser uma questão que deve ser tratada por especialistas das áreas da educação, da repressão, da justiça e da medicina, que são os que conhecem a fundo o problema.
ExcluirA vantagem da minha proposta indigesta seria o baixo custo e a eficácia em seus resultados.
Zito.
Apesar da indigestão que esta proposta nos causa, ela daria mais dignidade a essas pessoas do que elas tem agora....aliás já é o que o CAPS acaba fazendo...sei bem pois sou parente de um paciente psiquiátrico abandonado e esquecido pelo sistema de saúde que diz que ele está muito bem obrigada.....
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