Parece que Pitágoras (séc.VI a.C.) teria sido o primeiro a
usar o termo filosofia (philos-sophia),
que significa “amor ao conhecimento”. Como o próprio nome já indica, o filósofo
não se considera um “sábio” (sophos),
mas alguém que procura (philos: que
gosta, que tem afinidade) a sabedoria, o conhecimento. Mais do que um saber, a
filosofia é uma atitude diante da vida,
tanto no dia-a-dia, quanto nas situações-limite, que pressupõe constante
disponibilidade para a indagação. Por isso, Platão e Aristóteles afirmaram que
a principal característica do filósofo é admirar-se, ser capaz de se
surpreender com o óbvio e questionar as verdades estabelecidas. Essa é a
condição para problematizar, o que
caracteriza a filosofia não como posse da verdade, mas sim como sua busca sem
fim. Algo parecido, como me indicou minha amiga Luiza Pastor, muito
apropriadamente, com a postura do bom artista, que o ranzinza aqui criticou.
Do termo eironeia,
“ação de perguntar, fingindo ignorar”, veio “ironia”. No sentido atual, usamos
a ironia para dizer algo expressando exatamente seu contrário. Por exemplo,
afirmo que algo é bonito, na verdade insinuando que é feio. De maneira similar,
para Sócrates (470-399 a.C.), a ironia consiste em perguntar, simulando não
saber e, assim, provocar a reflexão e o questionamento, sobre o que antes
parecia estabelecido. É uma maneira de se fazer sentir a fragilidade do que
julgamos conhecido. O interessante dessa postura é que nem sempre as discussões
chegam a uma conclusão efetiva, mas traz o benefício do abandono das certezas,
que julgamos ter sobre os fatos. Assim como, ao estudar um assunto, paradoxalmente,
o que vai aumentando é nossa sensação de ignorância, e não de conhecimento. Uma
resposta só traz mais (e mais difíceis) perguntas. Sócrates vagava por Atenas
interpelando os transeuntes, perguntando coisas que pareciam óbvias, como “o
que é a beleza?”, “o que é a justiça?”, incentivando o diálogo e o pensamento.
Como psiquiatra, costumo dizer que as certezas me preocupam,
não as dúvidas. Exemplo: um doente tem a convicção de ser Napoleão. Enquanto
ele tiver uma certeza fixa disso, está numa situação muito doentia. Quando ele
começar a aceitar apenas a leve possibilidade de que possa estar errado (a
dúvida), temos o início da melhora. Essa convicção é um delírio, uma crença
falsa, inquestionável, imune à argumentação. A dúvida, para mim, é um indicativo
de saúde.
Concluindo, a filosofia é a procura, não a posse, da
verdade. A ironia, um instrumento nessa busca.
Precisa, clara, objetiva.
ResponderExcluirBela síntese ragazzo !!!
Zito.
Só sei que nada sei...
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