quarta-feira, 17 de março de 2010

O Dragão em minha biblioteca

André (nome fictício de um paciente) me convidou para conhecer o Dragão que vive em sua biblioteca. Adorei a idéia, afinal eu sempre quis ver um dragão de verdade. Oportunidade rara! Lá chegando, vi livros, estantes, poltrona, mas nada do dragão...
-Onde ele está?- perguntei.
-Ora, está aí- respondeu André, apontando adiante- Esqueci de lhe dizer que o dragão é invisível, só aparece quando lhe convém.
Eu proponho espalhar farinha no chão para ver suas pegadas.
-Ótima idéia- ele diz-, mas este dragão levita no ar.
Sugiro borrifar o dragão com tinta para torná-lo visível.
-Não vai adiantar, pois é um dragão incorpóreo e a tinta não vai aderir.
A idéia de usar um sensor infravermelho é rechaçada:
-Boa idéia, mas seu fogo invisível é desprovido de calor.
-Que tal deixarmos um gravador e uma câmera permanentemente ligados para flagrá-lo em seus momentos de aparição- digo.
-Inútil, pois suas aparições se dão numa dimensão que a câmera nem o gravador são capazes de registrar. E assim por diante...
Estou pensando: qual seria a diferença de um Dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, que apesar de presente, não pode ser visto nem filmado, e de um Dragão inexistente? A minha incapacidade de invalidar a hipótese de meu paciente, não é absolutamente a mesma coisa que provar sua veracidade.
Marcos, um outro paciente, diz saber que existe um prato de Capeletti no Brodo orbitando Saturno, que após morrer, em sua viagem celestial, fará ali uma parada para saboreá-lo. Não tenho como testar sua afirmação, que se mostra imune às minhas refutações. Nem por isso ela se torna verdade.

3 comentários:

  1. Este dragão parece ser inatingível para uma grande número de pessoas, creio eu. A quantidade de argumentos para não vê-lo é interessante principalmente no item de sensor infravermelho.
    Dragão que não lança fogo pelas ventosas e/ou boca não pode ser um dragão, o meu é mais interessante que o dele. Depois enviarei uma foto dele em minha mão...

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  2. Também gostaria de ver um dragão de verdade...
    Isso me lembrou de um filme onde um garoto dizia que tinha o poder de ficar invisivel, então todos queriam ver, mas o garoto disse que seu poder só funcionava quando ninguém estava olhando.

    Gostei do blog Mauricio.

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  3. Interessante a fusão de 2 mundos: O médico "são" que entra no mundo "louco" do seu paciente para tentar estabelecer uma comunicação. O que para nós é uma loucura, para o paciente é a normalidade, e imagino qual deve ser sua frustração por achar que nós "normais" somos uns "loucos" porque não conseguimos entender o seu mundo.

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